terça-feira, dezembro 27, 2005

Arremedilhos e temperilhos

José da Silva Pinto faleceu ainda na década de 60 e quem conta o que se segue é o seu filho António. Noutros tempos, José punha em campo, por esta quadra, uma sabedoria antiga sobre o modo de lidar com o tempo. Eram os Arremedilhos. Começavam a 13 de Dezembro, festa de Santa Luzia (julgo que a padroeira dos olhos). E durante 12 dias consecutivos, que terminavam na Consoada de Natal, a cada dia que passava correspondia um mês do ano seguinte: conforme o tempo que dominasse nesse dia, assim seria o tempo que predominaria no correspondente mês.
A contra-prova ou confirmação repetia-se nos 12 primeiros dias de Janeiro: eram os Temperilhos (pronúncia: Temp'rilhos"). Aqueles que, como José, estavam atentos e registavam (na memória) tais antevisões eram, depois, consultados. Conta António:
"Por meados de Janeiro, apareciam-lhe um e outro no campo e perguntavam: 'Então, Zé, que marcam os Arremedilhos?"
Doze dias que antecediam, na cultura popular, as doze noites em que o mundo se invertia, em que os bobos podiam ser reis, tempos de festas de rapazes, entregues a si próprios, como em diversas terras transmontanas. Doze dias que antecediam as doze badaladas da meia noite da missa do galo ou das doze badaladas da mudança do ano. Tempos solsticiais, de transição, de recomeço. Tempos de reverso do fulgor do sol. Tempos, como o solstício de Junho, de folgas e folguedos, como no S. João de Sobrado.
(Ler, sobre este tema, "Os Filhos de Cronos").

segunda-feira, dezembro 26, 2005

As últimas

... ainda que atrasadas: não surgiu qualquer lista candidata aos corpos gerentes da Casa do Bugio, na sequência da demissão dos anteriores.
Assim, analisada a situação, a Assembleia Geral decidiu prolongar até ao S. João o mandato da Comissão Administrativa, que foi "retocada" na sua composição.
Por outro lado, importa sublinhar que foi executada, nestas últimas semanas, a obra de reforço de uma viga deficientemente construída, que ameaçava a segurança no edifício da Casa do Bugio. Esta é a notícia boa que resultou da acção da Comissão Administrativa. A má notícia é que foram, entretanto, identificados sinais indiciadores de que várias outras vigas do mesmo edifício se encontram em mau estado, podendo, também elas, pôr em causa a segurança. Assim sendo, foi solicitado a várias instituições especializadas uma peritagem com vista a uma percepção rigorosa da situação. É nessa fase que as coisas actualmente se encontram.
Confrontada com o facto de a empresa construtora, depois de notificada, não ter assumido as suas responsabilidades nesta matéria, foi accionado o devido processo judicial que corre agora os seus termos.
Como é evidente, estas peripécias não colocam em causa a festa propriamente dita e a sua realização.

terça-feira, novembro 08, 2005

Eleições antecipadas para a Casa do Bugio

As eleições para os novos corpos gerentes da Associação da Casa do Bugio terão lugar no dia 2 de Dezembro próximo. A decisão foi tomada por unanimidade no decorrer de uma assembleia geral realizada no passado dia 4, durante a qual um conjunto de membros dos corpos gerentes que se encontravam em funções apresentaram a sua demissão. O motivo desta atitude prendeu-se com a impossibilidade de superar dificuldades de funcionamento interno.
Para preparar o acto eleitoral foi eleita uma comissão administrativa constituída pelos seguintes membros dos três órgãos (Direcção, Mesa da Assembleia Geral e Conselho Fiscal):

- António José Dias dos Santos
- Jorge Manuel Rocha da Silva
- Manuel António da Silva Pinto Suzano
- Manuel Fernando Almeida Coelho
- Moisés António Moreira Gândara.

Esta Comissão Administrativa foi igualmente mandatada para tratar com a máxima urgência da reparação de uma das vigas do edifício da Casa do Bugio, por se considerar, baseado em parecer técnico, que pode pôr em risco a segurança dos utilizadores daquele espaço.

quinta-feira, setembro 08, 2005

A Bugiada na TV

No próximo domingo, a edição do programa "Dia Santo" será dedicada à Festa de S. João de Sobrado e ao concelho de Valongo. A informação foi prestada por Cristina Alves, produtora da Mínima Ideia. O programa vai para o ar na Dois, às 19 horas.
Transcrevemos da sinopse do programa:

"A Festa da Bugiada celebra-se na freguesia de Sobrado, no município de Valongo, no dia de S. João, a 24 de Junho. O acto festivo evoca uma luta entre cristãos, que são denominados "Bugios", e mouros, designados "Mourisqueiros", em disputa por uma imagem milagrosa do santo. Esta narrativa baseia-se numa lenda secular, que tem corrido de gerações em gerações.Os Bugios, mascarados e vestidos de cores garridas, são temporariamente vencidos pelos Mourisqueiros, jovens aprumados de cara descoberta, mas acabam por vencer a luta graças a uma milagrosa serpente. Entre as encenações das contendas ocorrem diversos rituais e manifestações. Apesar de não haver documentos escritos sobre a tradição ela tem-se mantido e fortalecido ao longo dos séculos. Nos últimos anos, o número de intervenientes na festa tem ultrapassado o milhar.É com orgulho e com paixão que os sobradenses mantêm viva esta festividade. Durante todo o ano a comunidade local trabalha nos preparativos da festa. Há quem diga "A Bugiada está para os sobradenses assim como o Carnaval está para os brasileiros."

Partindo da ideia de mostrar a riqueza do nosso folclore materializado nas festas e tradições portuguesas, DIA SANTO é uma série documental que dedica 30 minutos semanais a uma festa popular, parte integrante da identidade e folclore nacionais, que urge preservar. Este programa é um documentário actual sobre o nosso património festivo.Cada programa desta série é dedicado a um Santo Padroeiro e respectivo Concelho ou a uma festa tradicional, alicerçada nas mais remotas tradições históricas e/ou religiosas. Estes programas são o retrato das romarias populares, são olhares sobre o país, a história, as lendas e tradições associadas a cada manifestação de fé, bem como, sobre alguns dos principais pontos de interesse turístico de cada Concelho retratado."

terça-feira, julho 12, 2005

A Banda de Música de Campo e a Bugiada

Existe em Sobrado a ideia de que nenhuma outra banda é capaz de tocar as músicas da Festa de S. João como o faz a Banda de S. Martinho de Campo (Valongo).
A prova disso aconteceu há já uns bons anos (não consegui apurar a data rigorosa, IMAG0084mas foi pelo menos há três ou quatro décadas). Nesse ano, foram contratadas para a Festa duas bandas: a de Campo e a de Vilela. Combinou-se que cada qual entraria na Dança de Entrada. Acabada a procissão, a Banda de Campo dirigiu-se até perto da Capela das Alminhas, começou a tocar e trouxe a Mouriscada até ao cimo do Passal, como é costume. Dirigiu-se, depois, a Banda de Vilela para trazer a Bugiada. Começou a tocar, mas os Bugios não se mexeram e recusaram-se a avançar enquanto a Banda de Campo não foi fazer o serviço.
A ligação da Banda de Campo ao S. João é de tal forma que se tornou tradição, no final de outras festas que ocorrem na freguesia (Corpo de Deus, S. Gonçalo, Santo André e Senhora das Necessidades), a Banda encerrar a sua participação tocando a marcha de S. João. Nessa altura todos os presentes se põem a dançar à volta da Banda.
Quando os responsáveis da Comissão de Festas vão a S. Martinho para contratar a Banda para a Festa de S. João, esta já tem normalmente o dia 24 reservado: o destino é sempre Sobrado.

quarta-feira, junho 29, 2005

Onde está a crise?

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A edição de Junho do mensário "Alô Sobrado" concede um destacado e justo espaço à Festa de S. João de Sobrado, com textos de opinião e entrevistas ao Reimoeiro e ao velho da Bugiada. São documentos importantes para registar, que passam a fazer parte da memória da Festa. Mas perpassa em alguns passos desses trabalhos a ideia de que a Bugiada, em particular, está afectada por grave crise, chegando-se a defender a necessidade de um "ano zero da nova Bugiada". Diz-se aí que a tradição já não é o que era; que já não há ordem e se estão a diluir os rituais. Em resumo que existe uma "descaracterização da festa".
Se existe tal opinião, é bom que ela seja não só manifestada, mas também justificada. Ou seja, apoiada em argumentos. Há muitos bugios e alguns andarão longe do espírito da Festa? Provavelmente. Mas há muitos outros para quem a "paixão" continua a ser o critério primeiro de participação. Por exemplo, a festa deste ano teve uma participação de Bugios e Mourisqueiros ao nível dos anos anteriores e, tanto quanto se sabe, decorreu da melhor maneira, com muita dignidade e brilho. Incluindo nas "Estardalhadas" e na "Dança do Cego", como reconhece, por exemplo, Marco Vaqueiro, no blogue "Sobrado".
Que há aspectos a melhorar? Que há necessidade de se prestar a maior atenção para que a tradição não se adultere? Parece-me que sim. Mas, sinceramente, não consigo ver onde está a crise.

terça-feira, junho 28, 2005

Visitantes deste blogue espalhados pelo mundo

Na antevéspera de S. João, coloquei pela primeira vez um contador e analisador de visitas neste weblogue. Nos dias que decorreram desde então, já visitaram este sítio mais de uma centena de pessoas (mais de 150 se considerarmos as páginas visitadas). É certo que o endereço deste blogue foi anunciado no dia da IMAG0183festa, o que pode ter ajudado na divulgação. Mas o mais interessante é que, entre as visitas, se encontram pessoas oriundas de países como os Estados Unidos, o Canadá, a Suécia, a Alemanha e até o Japão. Do Brasil, onde existem muitas tradições com afinidades com a de Sobrado e, sobretudo, onde há muitos emigrantes portugueses, ainda não chegou ninguém.
Seria interessante que este espaço se convertesse num ponto de encontro com muitos emigrantes de Sobrado que vivem e trabalham no Luxemburgo, na França, na Alemanha, no Reino Unido, na África do Sul e, claro, no Brasil. Os da primeira e da segunda geração, para quem a Festa é uma referência e um motivo de interesse. Sabemos que há emigrantes que marcam as suas férias de modo a coincidirem com o S. João. Há, com certeza, outras histórias da relação dos emigrantes com a Bugiada que merecem ser conhecidas. Fica o espaço à disposição, nomeadamente através do correio electrónico.

segunda-feira, junho 27, 2005

Identidades

“Es estúpida la idea de que la multiplicación de los contactos con el exterior es una amenaza contra la identidad, algo que se escucha a menudo. (...) Creer esto presupone que hay una identidad desde siempre constituida así, y nunca fue el caso”.
Marc Augé, etnólogo, em entrevista ao diário argentino La Nación (22.6.2005)
Olhares de gente de fora

* A produtora Mínima Ideia teve, durante o dia da Festa, duas equipas a recolher imagens e depoimentos para o programa "Dia Santo", sobre festas tradicionais portuguesas, que está previsto passar no canal Dois a partir de Agosto. (Procuraremos estar atentos para dar aqui informação sobre a data e a hora).

* Estava prevista uma visita de estudo à Festa de Sobrado por parte dos participantes de um curso de Verão organizado conjuntamente pela licenciatura em Antropologia da Universidade de Trás-os Montes e Alto Douro e pelo Departamento de Antropologia (Programa de Estudos Portugueses) da Universidade Louisville (Estados Unidos da América). O Curso tem por tema "Ecologia, política e cultura" e a guia desta visita foi
Paula Mota Santos, Universidade Fernando Pessoa.
Actualização (29.6.2005): Fomos informados pela Prof. Paula Mota Santos que, por várias circunstâncias, a visita teve de ser adiada para outra ocasião.

* Especificamente para estudar esta festa, esteve também presente uma estudante de doutoramento austríaca de nome Bárbara (infelizmente não registamos o seu apelido), que é uma especialista em etnomusicologia. Contamos dar mais informação sobre os seus estudos proximamente.

domingo, junho 26, 2005

Textos publicados sobre a Festa de S. João de Sobrado

Dia de S. João celebrado com Festa da Bugiada

A vila de Sobrado, em Valongo, é hoje palco da tradicional Festa da Bugiada, considerada como uma das mais importantes tradições populares portuguesas.Esta comemoração resulta de uma lenda que foi transmitida de geração em geração, em que uma imagem milagrosa de S. João deu origem a uma luta entre mouros e cristãos, designados localmente por mourisqueiros e bugios, respectivamente.Tendo como mote esta história, a vila de Sobrado relembra todos os anos, ao longo do dia de S. João, esta tradição que mobiliza grande parte da população local.As festividades iniciam-se logo pelas 8 horas com a concentração e danças dos intervenientes da festa, na casa do velho da bugiada e do reimoeiro. Mas depois de uma manhã de danças, a hora do almoço é acompanhada por alguns sketches de crítica à vida local e nacional.A folia continua e às 15 horas um novo momento de animação se inicia com a chamada "Cobrança de Direitos" e, posteriormente, o ritual da "Lavra da Praça".Finalmente, às 17 horas, é feito aquele que é considerado um dos momentos mais espectaculares, uma cena de teatro popular designada "Dança do Cego" ou "Sapateirada".Já a tarde se encaminha para o fim quando é atingido o ponto alto da comemoração, desencadeando-se a guerra das duas formações. E é assim, com esta manifestação espontânea pelas ruas da vila, que a tradição é recordada por todos e mantém viva a lenda.
Cristina Riboira Jornal de Notícias, 24.6.2005

Batalha pela posse do santo

Mais de 700 populares participaram este ano na festa da Bugiada, inspirada numa lenda antiga. Ritual popular, ilustrado pela luta entre mourisqueiros e bugios, durou o dia todo.

"Não há nenhuma festa de S. João como esta", assegura Paula Ferreira, que reside em Valongo há 12 anos, e aprendeu a valorizar a Festa da Bugiada que, anualmente, é celebrada na vila de Sobrado, no dia 24, mobilizando a esmagadora maioria da população local.
Este ano, serão mais de 700 as pessoas que fizeram questão de integrar, como actores e foliões, o evento. O público existe em número maior multiplica-se e espalha-se, efusivo, por todos os lugares da vila.
Longe de nutrir pelo cumprimento do ritual, ilustrado pela batalha dos Mourisqueiros contra os Bugios, a mesma "devoção" que o marido, Joaquim Lobo, Paula destaca o que mais a impressiona "Isto é a verdadeira festa do povo. Todos os anos tem mais gente. E a juventude que, geralmente não adere às tradições, é a primeira a não deixar morrer a festa".
Tiago, 13 anos, é a prova. Mascarado e vestido com o rigor do veludo colorido, castanholas na mão, prepara-se para combater os mouros. "Andamos aqui, porque eles roubaram o S. João e querem prender o rei, que está inocente. Nós temos que o defender e recuperar o santo, pedindo-lhe que faça um milagre", conta, fazendo referência à lenda, sobre a qual não existe qualquer documento escrito, mas que foi passando de geração em geração, e dá o mote à festa.
"A Bugiada existe desde que eu me conheço", sublinha, eufórico, Amaro Leal, 68 anos, que noutros tempos também integrou "a luta das nações", mas hoje prefere ser, apenas, espectador. "Estar aqui, também é uma forma de participar".
Além da guerra dos mouros contra os cristãos, três outros momentos marcam a festa o teatro que traduz uma sátira à vida local, o ritual inverso da lavra da praça, a dança do cego.

Verdadeiro milagre de S. João
De cinco em cinco anos, faz questão de ser o juiz da festa da Bugiada, patrocinando-a. Generoso Ferreira das Neves, 76 anos, natural de Valongo emigrado no Brasil, regressa a casa a cada S. João para lhe agradecer o milagre concedido em 1992. "O meu filho Cassiano tinha sido sequestrado no Brasil. Eu estava em Paris quando recebi a notícia. Fiquei desesperado e pedi muito ao S. João para que o meu filho fosse devolvido são e salvo, como acabou por suceder", relata no . A partir daí, Generoso nunca mais deixou de estar presente no S. João de Sobrado. "Há 20 anos que faço questão de estar presente nos festejos, mas desde 1992 a minha devoção aumentou", confessa.
in Jornal de Notícias, 25 de Junho de 2005

quinta-feira, junho 23, 2005

Programa da Festa
Dia de S. João, 24 de Junho

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:: 8 h - concentração e danças na casa do Velho da Bugiada e do Reimoeiro.
:: 10h - missa de festa na Igreja paroquial. Enquanto decorre a missa, Mourisqueiros e Bugios dirigem-se às instalações da Casa do Bugio, para o "jantar", antecedido e seguido de danças. No fim, os mouros dirigem-se à Igreja para pegar no andor do Santo, inseridos na procissão.
::12.45h - Danças de Entrada (partida da capela das Alminhas e chegada junto á igreja, ao fundo do Passal). Primeiro desfilam os Mourisqueiros e, depois, os Bugios. No fim do desfile, entram igualmente as "estardalhadas" (skteches de crítica à vida social local e nacional)
:: 15h - Cobrança dos direitos
:: 15.30h - Sementeira e Lavra da praça
:: 17h - Dança do Cego
:: 18h - Dança do Doce (no pátio da residência paroquial)
:: 19h - Início da prisão do Velho, nos "castelos" situados no Passal.
:: 20.30h - Dança do Santo.

Nota importante
- Os horários são meramente indicativos
(Gravura: Barretinas do Reimoeiro e do Velho da Bugiada deste ano, a estrear amanhã, confeccionadas por Margarida Suzano e Manuel António Pinto. Foto MP)

quarta-feira, junho 22, 2005

Generoso Ferreira das Neves, Juiz da Festa 2005
- Uma história de vida marcada pelo S. João


GenerosoGeneroso Ferreira das Neves, nascido em Sobrado, Valongo, no dia 26 de Setembro de 1929, é o Juiz da Festa deste ano, em honra de S. João. Empresário bem sucedido no Brasil, para onde emigrou em 1959, mantém uma estreita ligação com a sua terra natal, que jamais deixa de visitar, sempre que se desloca a Portugal.
Desde há cerca de 20 anos que faço questão de estar em Sobrado por altura dos festejos em honra de S. João. Não só porque nasci aqui, mas também porque me permite reviver tempos idos, quando me vi no papel de mourisqueiro, então ainda solteiro, e depois, já casado, também como bugio, tendo ocupado vários cargos”, começou por destacar.
Generoso Ferreira das Neves justificou ainda a sua presença “obrigatória” na festa de Sobrado com um acontecimento marcante da sua vida:
A minha devoção pelo S. João aumentou consideravelmente a partir de 1992, quando o meu filho Cassiano foi sequestrado no Brasil. Ao contrário do que vinha sucedendo, nesse ano, decidi partir para Paris, alguns dias antes do S. João, com alguns familiares e amigos. Estava na capital francesa quando recebi a notícia do rapto e sequestro. Fiquei desesperado e, então, pedi muito ao S. João para que o meu filho fosse devolvido são e salvo, como de facto acabou por suceder. A partir daí, nunca mais deixei de estar presente no S. João de Sobrado. E mais: faço questão de ser o juiz da festa, de cinco em cinco anos, enquanto viver”.
O nosso interlocutor recordou ainda alguns episódios que atestam a sua profunda ligação a Sobrado e ao S. João:
Há mais ou menos 20 anos, apercebi-me que o relógio da torre da igreja estava parado e ofereci-me para pagar a reparação (50 contos), gesto que foi destacado pelo padre na missa do domingo seguinte e que fez com que toda a gente ficasse a saber quem eu era, embora eu nunca tenha pedido o que quer que fosse ao padre; depois, quando me casei pela segunda vez, no Brasil, há 38 anos, a cerimónia teve lugar na Igreja de S. João, em São Luís do Maranhão; e, por último, foi ainda por meu intermédio que o meu sócio e amigo do coração Jacob Barata se ofereceu para custear o elevador da Casa do Bugio (cerca de 3500 contos).”
Este ano e na qualidade de juiz da festa, Generoso Ferreira das Neves faz-se acompanhar de D. Franci, sua esposa, de sua filha Cristiane e seu genro Bruno (recém-casados), do seu filho mais velho Generosinho e esposa, e ainda dos seus sócios Jacob Barata e filho e Salviano Valente, que considera “seus irmãos, não de sangue, mas do coração”.

(Colaboração especial do jornalista Manuel Neto, a quem agradecemos).

terça-feira, junho 21, 2005

"Portugal no Coração" (RTP) apresenta hoje as Bugiadas

Na edição de hoje do programa da RTP "Portugal no Coração" está prevista a participação de um grupo de sobradenses, para apresentar a festa deste ano. Além de aspectos relacionados com a história e o programa da Festa de S. João, estarão em estúdio Bugios e Mourisqueiros que envergarão os respectivos trajes, a fim de que se possa dar uma ideia desta tradição.
É grande, nestas alturas, a pressão para que se executem danças. Mas isso seria começar a matar a festa. As danças têm um sítio e um dia próprios e não são mero folclore de exibição. Têm um lado ritual que a maioria dos sobradenses não quer ver "profanado".
Os castelos já estão preparados para o combate

Os castelos ou palanques de Bugios e Mourisqueiros devem ser construídos no sábado anterior ao último ensaio da festa. Vai-se ao monte buscar os pinheiros e a uma serração buscar as tábuas. Depois os Bugios e Mourisqueiros constroem cada qual a sua fortificação. No dia, os cantos serão guarnecidos de bandeiras e o castelo dos Bugios com folhagem verde. É por baixo deste último que, ao fim da tarde, será colocada a temível Serpe, a qual irá ser o segredo da vitória dos Bugios.
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segunda-feira, junho 20, 2005

Do "dia da cabidela" ao "dia dos tremoços"

No Largo do Passal, este ano "roído" em mais um bocado, já estão construídos os castelos. Como é tradição, o dos Bugios junto à estrada e o dos Mourisqueiros a uns 40 metros, na direcção da igreja paroquial, sob os plátanos.
A tarefa começou e acabou no sábado, sob orientação geral do Velho da Bugiada, que deu a indicação do local onde os pinheiros deveriam ser cortados e tratou das tábuas para o tablado. No fim da tarefa, os participantes e outros convidados juntaram-se para comer um arroz de cabidela, como é de uso.
Ontem já foram na ordem das centenas as pessoas que acompanharam Bugios e Mourisqueiros até à Casa do Bugio, para os célebres tremoços, no fim do derradeiro ensaio. Perto de quarenta quilos foram distribuídos nas travessas, juntamente com azeitona, broa e vinho previamente seleccionado num lavrador local.
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Como é hábito, no último ensaio, os mourisqueiros já trazem o "espadim" a sério e a faixa, que é para acertar a posição em que deve ser colocada, visto que tem que jogar com a posição que cada Mourisqueiro ocupa na formatura.

Definidos os titulares de algumas funções

No dia do terceiro ensaio, saiu a lista daqueles que irão ocupar funções "especiais" no dia de S. João e que é a seguinte:

- Colher direitos - Lindoro Cavadas

- Semear - Joaquim Miranda
- Gradar - Domingos Cuco
- Lavrar - Fernando Cardoso

- Sapateiro - Joaquim do Juca
- Cego - Carlos Andrade
- Mulher do Sapateiro - António Poeira
- Moço do Sapateiro - Joaquim Brito
- Moço do Cego - Luís Loira.

Ao mesmo tempo, estamos em condições de divulgar a lista dos músicos que compõem a "orquestra" que aceitou acompanhar graciosamente as danças dos Bugios (assim demonstrando que continua a não faltar nesta Festa gente que gosta dela):

- Alberto Ferreira - Violino
- Diana Costa - Violino
- Elsa Carneiro - Violino
- Lindoro Pinto - Violino
- Lúcio Tibeiro - Violino
- Alfredo Ferreira - Viola
- António Silva - Viola
- Armando Dias - Viola
- Eduardo Monteiro - Viola
- João Paulo - Viola.

sexta-feira, junho 17, 2005

Festa da Bugiada na Wikipedia

A Wikipedia é um dos grandes fenómenos da era da Internet: é um projecto de enciclopédia em várias línguas, permanentemente em actualização, que pode ser construído por qualquer pessoa que tenha algo de novo para acrescentar ou mesmo para corrigir informações que já lá estejam inseridas. Tendo verificado que havia lá duas ou três linhas sobre Sobrado, mas não havia nada sobre a Festa de S. João, que é o ex-libris desta vila e, de algum modo, do concelho, coloquei lá uma entrada breve, por enquanto apenas na versão portuguesa. Pode ser lida clicando aqui.

quarta-feira, junho 15, 2005

"No dia do Baptista S. João
Fazem eles ali grande função"

Mais um documento com referências à festa de S.João de Sobrado, que tem mais de cem anos de existência. É o fragmento de uma faquelas folhas volantes que antigamente se vendiam pelas feiras e romarias, da autoria de José Alves dos Reis:

“Música Gorada

Na aldeia pitoresca de Sobrado
Terra aonde se cria o melhor gado
E já deu bastantes brasileiros
Tem hoje denodados Mourisqueiros.
No dia do Baptista S. João
Fazem eles ali grande função
Correm todos em vários desafios
Os Mourisqueiros e garbos Bugios
Os doidos imitando no correr
(e não faltam irmãos para ir ver)
A saltar e pullar por entre a praça
E os doidos socegados achando-lhes graça

(...)”
Versos de José Alves dos Reis, folheto volante de 10 pp,, 1896

domingo, junho 05, 2005

Reportagem fotográfica do 2º ensaio

O
O "Caixa" - É ele que abre o ensaio dos Mourisqueiros

Dança dos Mourisqueiros
Dança dos Mourisqueiros - Ao som do Caixa, o Reimoeiro dança com os Guias

Mouriscada
Mouriscada - A formação mourisca ensaia a sua dança. Ao lado, um popular também dá um jeitinho...

A Orquestra
A Orquestra - A "Orquestra" acompanha o ensaio dos Bugios

O Velho
O Velho - No dia 24, irá de cara tapada. Afinal, o Velho é ... novo!

Bugios
Bugios - A maior parte não vem ao ensaio. Mesmo assim, eram cerca de 80 a treinar para Bugio.

sexta-feira, junho 03, 2005

Antes da Festa, muito que fazer - II

Os ensaios ocupam os quatro domingos anteriores à festa. Os feriados não contam nessa contabilidade.
No sábado anterior ao último domingo de ensaio, pelas 7 horas, o Velho dá ordens acerca do local em que se irão cortar os pinheiros para construir os castelos (os "Palanques"). Para essa tarefa vão muitos Bugios e os Mourisqueiros.
A seguir, tratam de construir os Palanques - o dos Bugios junto á estrada, perto do coreto e o dos Mourisqueiros a uma distância de cerca de 80 metros, na direcção da igreja.
A desmontagem destas estruturas deverá fazer-se no sábado a seguir á Festa, com a participação de elementos das duas formações.
Outra actividade que ocorre também antes da Festa é a marcação de um dia para que todos aqueles que têm canhão e tencionem dar tiros nos Palanques se juntem num sítio isolado, para fazer a experiência de dar um tiro (os dez quilos de pólvora adquiridos à empresa concessionária do fogo de artifício servem não apenas para a "Guerra" do dia de S. João, mas igualmente para esta experiência.

segunda-feira, maio 30, 2005

Antes da festa, muito que fazer - I

Tiveram ontem início os ensaios públicos de Bugios e Mourisqueiros. Como habitualmente, o local foi o Passal, apesar das obras que decorrem este ano na parte sudoeste. O mesmo acontecerá nos próximos três domingos, a partir das 18 horas. Todos vão vestidos "à civil", os Mourisqueiros empunhando uma pequena cana ou pau em lugar da espada e os Bugios levando castanhola.
Muita coisa se passa nos bastidores, neste período que antecede a Festa. Uma delas refere-se aos trajes dos Bugios, de que cada um deve cuidar (adquirindo novos, alugando, mandando restaurar eventuais estragos).
Outra coisa é o que se relaciona com a indigitação de quem irá ocupar funções como Semeador, Cego, Lavrador, Moço do Cego, Sapateiro, Moço do Sapateiro e Mulher do Sapateiro, personagens da Cobrança dos "Dreitos", da Sementeira, da Dança do Cego. O processo segue os seguintes passos:
- No fim dos ensaios do 1º e 2º domingos, os Guias e Rabos dos Bugios anotam o nome dos interessados em exercer funções.
- Se houver mais do que um interessado em cada um dos lugares - coisa que normalmente ocorre - a decisão sobre o assunto é tomada pelo Velho, coadjuvado pelos seus Guias e Rabos, na tarde do domingo em que ocorre o 3º ensaio e antes deste.

sábado, maio 28, 2005

Designação e competências do Velho e do Reimoeiro

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(Crédito da foto: Museu da Pessoa)

A Festa aproxima-se a passos largos. Faz sentido entrar em alguns pormenores relativamente invisíveis, que muitos desconhecerão, relacionados com a Bugiada.
Antes de mais:
Quer o Velho quer o Reimoeiro são escolhidos e designados pela Comissão de Festas, tarefa este ano assumida pela Casa do Bugio, de acordo com os respectivos estatutos, e tendo como Juíz da Festa o empresário brasileiro, natural de Sobrado, Generoso Ferreira das Neves.
O critério primeiro para a escola destes lugares é o da antiguidade.
A partir do momento em que essa escolha se efectua, uma série de atribuições e responsabilidades competem a cada um destes altos postos. Assim:

O Velho da Bugiada:

- escolhe e designa os Guias e os Rabos
- arranja os músicos que acompanham a Bugiada
- assegura o cavalo que correrá as Embaixadas
- arranja os burros para a Sementeira
- escolhe os Advogados
- designa os Bugios que vão para cima do Castelo, controlam e dão a pólvora, dão os fulminantes e usam a vassoura
- designa as crianças que irão despedir-se do Velho e limpar-lhe as "bagadas"
- designa os que transmitem as mensagens ao Embaixador ("folhas")
- compete-lhe igualmente arranjar a pólvora, a corda para os instrumentos dos músicos
- cabe-lhe ainda arranjar os pinheiros para os dois castelos.

O Reimoeiro:

- designa os Guias, Meios e Rabos
- distribui as fardas da Comissão
- arranja "espadins", polainas e plumas (a Comissão não os tem em número bastante)
- arranja o "Caixa" que acompanha as danças dos Mourisqueiros.

quinta-feira, maio 12, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - III

O Prof. António Custódio Gonçalves, num texto de meados dos anos 80, na Revista da Faculdade de Letras/Geografia, do Porto (I Série, Vol. I, 1985, pp.35-45), intitualado "Simbolização da violência social", refere-se a formas simbólicas de violência. A propósito das formas de ritualização (e esteticização) da violência, nomeadamente nas sociedades tradicionais (e não só), escreve o autor:

"Todos nós conhecemos certamente o ritual da 'bugiada', que se pratica na povoação do Sobrado, do concelho de Valongo. Todos os anos, Sobrado é palco duma 'arte marcial', imitada e repetida ao longo dos séculos, entre cristãos (que dão pelo nome de 'bugios') e mouros (grupo dos 'mourisqueiros' comandado pelo 'Reimoeiro' ou Rei Mouro). Para além dos ritos de fertilidade, o ritual da 'Dança do Cego' põe em cena o conflito e o constante refazer dos desequilíbrios da vida colectiva, sem que tal dinâmica lúdica acarrete a negação ou o aniquilamento de qualquer das partes em tensão: jogo altamente participado pela colectividade em que esta é aspergida por lama e excrementos".

quarta-feira, maio 11, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - II

Encontrei no weblog Adverb, de um americano "expatriado" em Portugal (de facto, alguém que se apaixonou por uma jornalista portuguesa), esta referência à festa de Sobrado, datada de 24 de Junho de 2003 (as fotos que colheu não se encontram disponíveis, presentemente):

"Missed the hammerfest last night, but made it to the Festa de S. João in the neighboring village of S. João de Sobrado today for the Procissão de S. João. (Procession of St. John) and the Dança Entrada de Mour e Bugios (Dancing Entrance of the Moors and the Bugios). The event is a parade, half religious and half, if I understand it correctly, a celebration of the role played by the Bugios in the defeat of the Moors in Portugal during the Middle Ages.No one I spoke to today had a clear idea of exactly who or what the Bugios were, or what role they played in defeating the Moors, but in the Dança Entrada de Mour e Bugios segment of the parade the Bugios were represented by a hundred or so men dressed in bright red costumes and a variety of festive masks. The program stated that both the Bugios and the Moors would 'enter dancing', but I couldn't tell who was supposed to be a Moor since they all wore essentially the same bright red military-style costume. Maybe the distinction was in the masks since I doubt that a Moor ever wore a bright red military uniform.An image of the religious portion of the parade. The icon is S. João."

segunda-feira, maio 09, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - I

Encontrei, numa publicação intitulada Vida Lusa, de Setembro de 2003, disponível na Internet, a seguinte apresentação da Festa de S. João de Sobrado:

"Já que está em Valongo, pode dar um salto a Campo, para ver as minas de lousa, e a Sobrado, onde se realiza ainda uma das mais espantosas festas portuguesas e da própria Europa : um ritual a que deram o nome de “Bugiada”.
Na sua génese estará a sagração do Verão, representada através de uma guerre entre “Bugios” e “Mouriscos”, no dia de São João (24 de Junho). Os “Bugios”, que representam os cristãos antigos, mascaram-se e, como nas festas transmontanas dos Rapazes e dos Caretos, aproveitam o anonimato da máscara para as mais diversas partidas e críticas sociais.
Os “Mouriscos”, fardados e sisudos, em geral interpretados por rapazes solteiros, representam os mouros que habitavam na serra. E uma guerra entre o Bem e o Mal, mas em que os bons parecem muito mais sujos, desorganizados e travessos que os maus. E a derrota dos “Mouriscos” no fim da festa não é definitiva : depois de desbaratados pelo dragão dos “Bugios”, reorganizam-se no adro da igreja. Para o ano tudo recomecerá, pois a luta entre a Vida e a Morte, entre o Bem e o Mal, entre o Verão e o Inverno é eterna…"

sexta-feira, abril 15, 2005

Em Bragança
Vai nascer o Museu da Máscara
in Público, 15.4.2005

"A Câmara Municipal de Bragança vai recuperar um edifício degradado na zona histórica da cidade, para a instalação do Museu da Máscara e do Traje. Trata-se de um imóvel municipal em avançado estado de degradação, com três pisos, onde vai ser criada uma área de exposições, mas também alguns espaços para que os artesãos locais, que ainda se dedicam à criação de mascarares e trajes regionais, possam trabalhar e vender as suas obras. O concurso público para a recuperação do imóvel termina amanhã, dia 15 (quinta-feira), a obra tem um prazo de execução de 180 dias e o preço-base ronda os 260 mil euros.Um investimento a realizar na área da freguesia de Santa Maria, que deixa o presidente da junta, Jorge Novo, duplamente satisfeito: "Por um lado é mais um imóvel que vai ser recuperado, por outro, vamos ter mais um espaço de cultura, mais um local de visita", afirma. O autarca luta "contra a morte" da zona mais nobre da cidade de Bragança, o castelo e a cidadela, e defende que, com investimentos deste tipo, "a cidadela fica mais viva e mais atractiva". (...)""

sábado, abril 02, 2005

Na freguesia de Sobrado
Obras em Valongo põem em risco festas das Bugiadas
Jorge Marmelo

in Público, 29.3.2005

bugiada 1993Câmara quer alterar o espaço utilizado por uma das mais originais festividades sanjoaninas, mas a população promete resistir
O Largo do Passal, palco tradicional das Bugiadas com que os habitantes de Sobrado, em Valongo, assinalam a quadra sanjoanina, está a ser objecto de uma pequena batalha. Não estão, desta vez, em guerra os bugios (cristãos) e os mourisqueiros (mouros), mas antes a população local, ciosa do espaço da sua festa maior, e a Câmara de Valongo, que planeia modificar o acesso à Estrada Nacional n.º 209, alterando a localização da rotunda ali existente e rasgando uma rua pelo meio do largo.Há uma semana, as máquinas já estiveram no local para iniciar a empreitada, que tem uma duração prevista de 120 dias. Nessa ocasião, porém, os sobradenses mobilizaram-se e conseguiram impedir o avanço das obras, tendo a autarquia prometido que o projecto iria ser revisto, de modo a causar menor dano ao mais emblemático espaço público da freguesia. "É um espaço sagrado, palco da tradição que nos identifica", explicou ao PÚBLICO António Pinto, garantindo que, caso não exista negociação, o avanço da obra vai, decerto, provocar uma "grande contestação" e "revolta".Satisfeitos com o adiamento da intervenção, mas não totalmente convencidos da perenidade do gesto, os moradores de Sobrado continuam vigilantes, temendo que as máquinas regressem "a qualquer instante". "Isto tem havido muita polémica", reconheciam, ontem de manhã, os quatro homens que conversavam junto ao Passal. Instantes depois, separaram-se: um foi para a porta do Café S. João juntar-se ao grupo mais numeroso que ali se abrigava de mais um aguaceiro, outro refugiou-se, com mais três, no coreto da praça; sob esta construção, outro grupo de idosos entretinha-se a jogar às cartas. "Estão de sobreaviso", reconheceu António Pinto. Parece impossível que a obra comece sem que a população se aperceba, embora um dos homens fosse admitindo que "está mais para se fazer do que para não se fazer"."As Bugiadas são uma festa centenária e o espaço em que se celebra nunca foi alterado", valoriza António Pinto, que recorda como, há cerca de 25 anos, um presidente da junta de freguesia tentou construir o edifício da edilidade naquele largo. "No mesmo dia em que aquilo foi desaterrado voltou a ficar como estava", diz. Para além da alteração da rotunda e da construção da nova via que vai escoar o trânsito procedente da Rua de Santo André e do adro da igreja local, o projecto camarário prevê, segundo Pinto, o abate de quatro plátanos e a construção de um parque de estacionamento. O mais grave, porém, é a alteração da morfologia do largo: um terreiro calcetado com paralelepípedos e usado como parque de estacionamento enquanto não chegam as tropelias anuais dos bugios e dos mourisqueiros. "No dia 24 de Junho, quando são as festas, isto já é pequeno para tanta gente. Cortando, mais pequeno fica", explicava ontem um dos homens que mantinham o largo sob vigilância.António Pinto garante que a população está disponível para "estudar outro projecto, desde que não mexa no lugar", mas afiança também que, sem negociação, a obra não se faz. "De certeza absoluta", diz. Por outro lado, e como a obra, a concretizar-se, se prolongará por cerca de quatro meses, existe o risco de o largo se encontrar em obras aquando da próxima celebração sanjoanina. O PÚBLICO tentou ontem contactar a Câmara Municipal de Valongo para apurar se o projecto para o Largo do Passal vai efectivamente ser repensado, mas os paços do concelho encontravam-se encerrados, tendo igualmente sido impossível estabelecer ligação com o presidente da Junta de Freguesia de Sobrado, também incontactável.

terça-feira, março 22, 2005

Festa de 2005: o Reimoeiro e o Velho da Bugiada

Augusto Cabeda, da Rua da Costa, será o Velho da Bugiada da festa de S. João de Sobrado deste ano. Terá como guias Fernando Miranda, de Penido, e Manuel Leal, do Alto dos Foguetes.
Por sua vez, à frente dos Mourisqueiros, como Reimoeiro (de rei mouro) estará, em 2005, Mário Ferramenta, do Vilar, tendo como guias Vitorino Oliveira, da Lomba, e Pedro Vale, do Terreiro.

domingo, fevereiro 20, 2005

Notícia de "danças arcaicas"

Com o objectivo de dar a conhecer elementos de referência sobre a Festa de S. João de Sobrado, aqui fica mais um:
"Contam-se pelos dedos as danças arcaicas...que sobrevivem com foros de autenticidade. Toda a restante coreografia reinante descende de velhos bailes, embora possa conservar, aqui e além, num ou noutro pormenor, restos de antigas figurações, ou reflexos de passos e atitudes, ademanes e combinações, próprios de danças cortesãs, que entraram de ser importadas nos alvores da Renascença. (...) Com personalidade de algum modo vincada (por assim dizer) subsistem mais [para além da Dança dos Paulitos]: a Dança dos Ferreiros, de Penafiel, a Mourisca do Sobrado de Valongo, a Dança do Rei David, de Braga, modificada no séc.XVIII pela vontade discricionária de um arcebispo que a 'renovou' a seu modo e gosto do teatro musicado espanhol de então - e a Dança de Genebres, de Lousa".
Mário de Sampaio Ribeiro, in A Arte Popular em Portugal, vol. II. p.376

domingo, janeiro 30, 2005

"Ritos e mistérios transmontanos"

caretos1caretos
Pela via da máscara - e não só - a festa de S. João de Sobrado pode ver-se em ligação com outras tradições populares portuguesas, em particular a Festa de Rapazes, que persistem no Nordeste transmontano, em sítios tão diferentes como Podence, Ousilhão, Baçal, Varge ou Bemposta e que se estende desde a altura de Todos os Santos até ao Carnaval, passando pelo imprecindível Santo Estêvão.
António Pinelo Tiza acaba de publicar um estudo sobre estas tradições a que deu o título de Inverno Mágico - Ritos e Mistérios Transmontanos (Ed. Ésquilo, Lisboa, 2004) e que constitui uma aliciante viagem por um mundo relativamente ignorado.
Sobre as festas solsticiais transmontanas, escreve o autor: "

"Os rapazes assim metamorfoseados são os verdadeiros animadores da festa. Tornam-se figuras diabólicas e mágicas, sob a máscara de latão pintado ou de madeira, o colorido dos seus fatos , com fitas, campainhas e chocalhos à volta do corpo. São os 'caretos', dificilmente identificáveis, se não de todo impossível, a quem toda a sorte de disparates, tropelias e brincadeiras lhes é permitido fazer. O mascarado torna-se um ser superior, mágico e profético, diabo e sacerdote ao mesmo tempo".
A única diferença relativamente a Sobrado, deste ponto de vista, é que aqui os ritos têm lugar no solstício de Verão .
(Créditos das fotos: a da esquerda e a da direita).

quinta-feira, janeiro 27, 2005

A notícia mais antiga sobre a Bugiada

Eis a informação mais antiga que conheço sobre a festa sobradense da Bugiada. Não quer dizer que não haja mais antigas; certamente que as há; e , a seu tempo, verão a luz do dia. Esta vem publicada na importante obra Etnografia Portuguesa, de José leite Vasconcelos, no vol. VIII (p.409) e diz o seguinte:

"O S. João na freguesia de Sobrado, concelho de Valongo (apontamento enviado por Jerónimo Alves Barbosa, do Porto, em 8 de Novembro de 1882):

No dia 24 de Junho de todos os anos é este santo festejado na igreja paroquial da freguesia. Concorre ali gente en número espantoso, e até de grandes distâncias, mais com o propósito de presenciar o que os 'moços' aí fazem. Primeiramente dão um espectáculo a que chamam a 'dança do Menino', onde se apresentam vestidos de uma maneira digna de apreço. As falas são em verso. Terminada esta, começa imediatamente outra. Arranjam para ali doze ou dezasseis jumentos e aprestos de lavoura, como arados, grades, etc., com que principiam a lavrar. De resto, tendo praticado tudo como se fosse num campo, principiam a semear. Montam então os jumentos (mas voltados para a cauda do animal) e uns espalham pelo solo areia e excrementos de cabra, e outros fingem escrever em um papel, servindo de tinteiro o cu do animal. O final desta brincadeira sobressai com muito fogo de artifício e música. E a retirada das caravanas efectua-se num regozijo indescritível, tocando violas, dançando e cantando até suas casas"


O que se conclui desta descrição? É que ela refere, no essencial, aquilo que se passa na tarde da festa, no Passal, sensivelmente entre as 15 e as 16 horas. Nada aparece referido sobre as danças de Bugios e Mourisqueiros, sobre a Dança do Cego ou Sapateirada, sobre a Prisão do Velho, etc. Das duas uma: ou a pessoa que descreve foi um bocado ao arraial, depois do almoço, e conta apenas aquilo que viu; ou, nesse ano pelo menos, a festa não teve características idênticas àquelas que viríamos a conhecer posteriormente. De qualquer modo, aqui fica mais este registo.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sobrado tem blogue

Paulo Figueiredo e Marco Vaqueiro, ligados ao jornal mensal "Alô Sobrado" e à Associação Social e Cultural da freguesia, criaram o blogue Sobrado, para informar e debater sobre os problemas, iniciativas e património desta vila. O "Bugios e Mourisqueiros" congratula-se com a iniciativa e deseja aos promotores o maior sucesso.
A propósito: na edição deste mês do "Alô Sobrado", que evoca os cinco anos da publicação e a mudança de director do jornal, é feita a divulgação do endereço deste blogue e dos respectivos objectivos.

domingo, janeiro 16, 2005

Sobrado continua "patriarcal"?

Um leitor do Porto comentou o seguinte, a propósito da publicação da lista dos corpos gerentes da Associação da Casa do Bugio: "As coisas vão evoluindo, mas Sobrado continua patriarcal, hein??".
Julgo que o autor do comentário se refere ao facto de, à frente da Casa do Bugio, não existir uma única mulher. De facto, assim é e nada obriga a que assim seja. De resto, na última Assembleia da Associação, foi sublinhado o interesse e vantagem em que outras pessoas, nomeadamente mulheres, integrassem grupos de tarefas ou de projectos, necessários à vida da Associação.
Nesta festa, já foi um progresso as mulheres terem começado a assumir aquilo que de há muito se sabia: que havia bastantes que iam de bugio. Mas isso ainda não se traduziu no planlo das responsabilidades da festa (com excepção, quase, da confecção do "jantar" da manhã da festa - e percebe-se bem porquê!).
As coisas são como são. Mas as mentalidades mudam, ainda que lentamente.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Corpos gerentes da Associação da Casa do Bugio

É a seguinte a lista que assumiu em Setembro último a responsabilidade de conduzir a vida da Associação:

Direcção:

Presidente: António Almeida Moreira
1º Vice-presidente: António Pacheco Oliveira
2º Vice-presidente: Moisés António Moreira Gândara
1º Secretário: Rogério Manuel Almeida Coelho
2º Secretário: António Manuel Moreira Marques do Vale
Tesoureiro: Manuel Joaquim Moreira da Silva
Vogais:
- Manuel Joaquim da Silva Pinto
- Luís Ferreira Bento
- Manuel Augusto Espinheira Rocha
- Jorge Manuel Rocha da Silva
- António Fernando Moreira Gaspar

Assembleia Geral:

Presidente: Manuel António da Silva Pinto Suzano
Vice-Presidente: Fernando Manuel Moreira Dias
Secretário: António José Dias dos Santos

Conselho Fiscal:

Presidente: Manuel Fernando Almeida Coelho
Secretário: José Manuel Pacheco Oliveira
Relator: Abílio Fernando Alves Neves.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Violas braguesas ou ramaldeiras

violas braguesas
Na Dança de Entrada e noutros momentos importantes ao longo do dia da Festa, a "orquestra" de violas e rabecas alterna com a banda de música no acompanhamento das danças. Na gravura, as violas utilizadas pela "orquestra", chamadas em Sobrado, indistintamente, braguesas ou ramaldeiras.

sábado, janeiro 01, 2005

A festa em 1913

Notícia de "O Vallonguense", nº1, de 29 de Junho de 1913:

"Realizou-se na passada terça-feira a festa de S. João Baptista. Houve as tradicionais danças dos 'Mouriscos e Bugios' sempre muito engraçadas e apimentadas. Não há meio de tirar esta antiga costumeira, tão enraizada está nos hábitos deste povo a quem chamam tolo; eu penso porém que mais tolos são aqueles que atravessando montes e vales o vêm apreciar. Tolos não, finos é que eles são, porque com suas artes pitorescas chamam grande número de forasteiros à sua terra".