segunda-feira, maio 30, 2005

Antes da festa, muito que fazer - I

Tiveram ontem início os ensaios públicos de Bugios e Mourisqueiros. Como habitualmente, o local foi o Passal, apesar das obras que decorrem este ano na parte sudoeste. O mesmo acontecerá nos próximos três domingos, a partir das 18 horas. Todos vão vestidos "à civil", os Mourisqueiros empunhando uma pequena cana ou pau em lugar da espada e os Bugios levando castanhola.
Muita coisa se passa nos bastidores, neste período que antecede a Festa. Uma delas refere-se aos trajes dos Bugios, de que cada um deve cuidar (adquirindo novos, alugando, mandando restaurar eventuais estragos).
Outra coisa é o que se relaciona com a indigitação de quem irá ocupar funções como Semeador, Cego, Lavrador, Moço do Cego, Sapateiro, Moço do Sapateiro e Mulher do Sapateiro, personagens da Cobrança dos "Dreitos", da Sementeira, da Dança do Cego. O processo segue os seguintes passos:
- No fim dos ensaios do 1º e 2º domingos, os Guias e Rabos dos Bugios anotam o nome dos interessados em exercer funções.
- Se houver mais do que um interessado em cada um dos lugares - coisa que normalmente ocorre - a decisão sobre o assunto é tomada pelo Velho, coadjuvado pelos seus Guias e Rabos, na tarde do domingo em que ocorre o 3º ensaio e antes deste.

sábado, maio 28, 2005

Designação e competências do Velho e do Reimoeiro

bugiada 1 MuseuP
(Crédito da foto: Museu da Pessoa)

A Festa aproxima-se a passos largos. Faz sentido entrar em alguns pormenores relativamente invisíveis, que muitos desconhecerão, relacionados com a Bugiada.
Antes de mais:
Quer o Velho quer o Reimoeiro são escolhidos e designados pela Comissão de Festas, tarefa este ano assumida pela Casa do Bugio, de acordo com os respectivos estatutos, e tendo como Juíz da Festa o empresário brasileiro, natural de Sobrado, Generoso Ferreira das Neves.
O critério primeiro para a escola destes lugares é o da antiguidade.
A partir do momento em que essa escolha se efectua, uma série de atribuições e responsabilidades competem a cada um destes altos postos. Assim:

O Velho da Bugiada:

- escolhe e designa os Guias e os Rabos
- arranja os músicos que acompanham a Bugiada
- assegura o cavalo que correrá as Embaixadas
- arranja os burros para a Sementeira
- escolhe os Advogados
- designa os Bugios que vão para cima do Castelo, controlam e dão a pólvora, dão os fulminantes e usam a vassoura
- designa as crianças que irão despedir-se do Velho e limpar-lhe as "bagadas"
- designa os que transmitem as mensagens ao Embaixador ("folhas")
- compete-lhe igualmente arranjar a pólvora, a corda para os instrumentos dos músicos
- cabe-lhe ainda arranjar os pinheiros para os dois castelos.

O Reimoeiro:

- designa os Guias, Meios e Rabos
- distribui as fardas da Comissão
- arranja "espadins", polainas e plumas (a Comissão não os tem em número bastante)
- arranja o "Caixa" que acompanha as danças dos Mourisqueiros.

quinta-feira, maio 12, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - III

O Prof. António Custódio Gonçalves, num texto de meados dos anos 80, na Revista da Faculdade de Letras/Geografia, do Porto (I Série, Vol. I, 1985, pp.35-45), intitualado "Simbolização da violência social", refere-se a formas simbólicas de violência. A propósito das formas de ritualização (e esteticização) da violência, nomeadamente nas sociedades tradicionais (e não só), escreve o autor:

"Todos nós conhecemos certamente o ritual da 'bugiada', que se pratica na povoação do Sobrado, do concelho de Valongo. Todos os anos, Sobrado é palco duma 'arte marcial', imitada e repetida ao longo dos séculos, entre cristãos (que dão pelo nome de 'bugios') e mouros (grupo dos 'mourisqueiros' comandado pelo 'Reimoeiro' ou Rei Mouro). Para além dos ritos de fertilidade, o ritual da 'Dança do Cego' põe em cena o conflito e o constante refazer dos desequilíbrios da vida colectiva, sem que tal dinâmica lúdica acarrete a negação ou o aniquilamento de qualquer das partes em tensão: jogo altamente participado pela colectividade em que esta é aspergida por lama e excrementos".

quarta-feira, maio 11, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - II

Encontrei no weblog Adverb, de um americano "expatriado" em Portugal (de facto, alguém que se apaixonou por uma jornalista portuguesa), esta referência à festa de Sobrado, datada de 24 de Junho de 2003 (as fotos que colheu não se encontram disponíveis, presentemente):

"Missed the hammerfest last night, but made it to the Festa de S. João in the neighboring village of S. João de Sobrado today for the Procissão de S. João. (Procession of St. John) and the Dança Entrada de Mour e Bugios (Dancing Entrance of the Moors and the Bugios). The event is a parade, half religious and half, if I understand it correctly, a celebration of the role played by the Bugios in the defeat of the Moors in Portugal during the Middle Ages.No one I spoke to today had a clear idea of exactly who or what the Bugios were, or what role they played in defeating the Moors, but in the Dança Entrada de Mour e Bugios segment of the parade the Bugios were represented by a hundred or so men dressed in bright red costumes and a variety of festive masks. The program stated that both the Bugios and the Moors would 'enter dancing', but I couldn't tell who was supposed to be a Moor since they all wore essentially the same bright red military-style costume. Maybe the distinction was in the masks since I doubt that a Moor ever wore a bright red military uniform.An image of the religious portion of the parade. The icon is S. João."

segunda-feira, maio 09, 2005

Os que escrevem sobre a Bugiada - I

Encontrei, numa publicação intitulada Vida Lusa, de Setembro de 2003, disponível na Internet, a seguinte apresentação da Festa de S. João de Sobrado:

"Já que está em Valongo, pode dar um salto a Campo, para ver as minas de lousa, e a Sobrado, onde se realiza ainda uma das mais espantosas festas portuguesas e da própria Europa : um ritual a que deram o nome de “Bugiada”.
Na sua génese estará a sagração do Verão, representada através de uma guerre entre “Bugios” e “Mouriscos”, no dia de São João (24 de Junho). Os “Bugios”, que representam os cristãos antigos, mascaram-se e, como nas festas transmontanas dos Rapazes e dos Caretos, aproveitam o anonimato da máscara para as mais diversas partidas e críticas sociais.
Os “Mouriscos”, fardados e sisudos, em geral interpretados por rapazes solteiros, representam os mouros que habitavam na serra. E uma guerra entre o Bem e o Mal, mas em que os bons parecem muito mais sujos, desorganizados e travessos que os maus. E a derrota dos “Mouriscos” no fim da festa não é definitiva : depois de desbaratados pelo dragão dos “Bugios”, reorganizam-se no adro da igreja. Para o ano tudo recomecerá, pois a luta entre a Vida e a Morte, entre o Bem e o Mal, entre o Verão e o Inverno é eterna…"