domingo, junho 27, 2010

O positivo e o menos positivo de 2010

Faço aqui também a minha apreciação da festa de 2010, depois de vários outros conterrâneos se terem pronunciado já.

Aspectos positivos:
  • Mais de vinte pares de Mourisqueiros. fazendo desta uma das maiores mouriscadas de sempre
  • Carácter incisivo das críticas a situações e acontecimentos do país e da vila.
  • Apoio da autarquia municipal e da freguesia, como há bastante tempo não se via.
  • Colocação de cinco parques de estacionamento e transporte de apoio para quem quis visitar Sobrado no dia 24.
  • Apoio à festa da parte da população, visível no facto de, apesar do agravamento da crise, o peditório individualizado ter permitido arrecadar um valor superior ao do ano anterior (mais de dez mil euros).
  • Projecção em espaço público do filme de Ângelo Peres "A Bugiada", de 1977.
  • Integração dos Deolinda no cartaz da principal noitada.
  • Pelo seu lado promissor: a exposição de trabalhos (máscaras e penachos) feitos no âmbito do Agrupamento de Escolas de S. João de Sobrado, com envolvimento sobretudo de crianças de alguns dos jardins de infância.
  • Já agora: a ideia da Comissão de festas, de mandar estampar t-shirts alusivas à Bugiada e Mouriscada também é um dado interessante, oxalá que o primeiro passo de outras iniciativas desse tipo.
Aspectos menos positivos:
  • As críticas das Estardalhadas, ainda que contundentes, concentraram-se nos mesmos temas (questões relacionadas com a igreja e com o emprego e rendimento social de inserção) e revestiram um carácter por vezes excessivo no que toca ao lançamento de sacos e espumas com água;
  • Velocidade da Prisão do Velho: não é correcto demorar excessivamente as cenas, que se desenrolam no castelo dos Bugios, mas também não se deve acelerar. Pareceu que, sobretudo a partir do momento da prisão propriamente dita, este ano, as coisas se desenrolaram depressa demais. A narrativa representada deve ter um ponto certo e uma justa medida.
  • Não suporto vuvuzelas (no 'mundial' nem sequer deixam ouvir os cânticos da multidão), mas era inevitável que fizessem a sua aparição nas mãos de alguns bugios (felizmente poucos e não muito dados ao seu uso intensivo). 
 Em geral, creio que se pode dizer que o balanço é claramente positivo e que se tratou de um novo momento de grande intensidade na vivência da festa, um "lavar de alma", no feliz dizer de tsiwari, comentando o post anterior a este. E já que refiro os comentários, gostaria de chamar a atenção para a importãncia da sugestão dada pelo mesmo comentador, relativamente à construção de um património de imagens da festa, com o contributo de todos quantos fotografam (e filmam) os vários momentos do S. João. Havemos de voltar a este assunto, mas, desde já, fica aqui expresso o gosto que teríamos todos, certamente, se tsiwari quisesse elaborar um pouco mais a sua ideia, dando-lhe, se possível, forma de proposta a ser discutida oportunamente. Seria, naturalmente, inserida no corpo principal do blog.
(Infelizmente, este ano, não pude acompanhar nem a cobrança dos direitos, nem a lavra nem a dança do cego, pelo que não me posso pronunciar sobre esses aspectos).

(Foto: capa do mensário 'Alô Sobrado', alusiva à festa, com a tradicional entrevista ao Velho e o Reimoeiro - na imagem a mostrar que 'guerra' é só no dia 24 - e ao principal obreiro da Comissão de Festas).

sexta-feira, junho 25, 2010

Na hora de fazer avaliações

Mais uma festa, mais uma intensa jornada vivida ontem em Sobrado. Fica aqui espaço para cada um que o viveu poder comentar aquilo de que mais gostou, o que lhe chamou a atenção, o que seria de corrigir ou melhorar no próximo ano, o que houve de novo.

quarta-feira, junho 23, 2010

T-shirt como recordação da festa de S. João de Sobrado

A Comissão de Festas 2010 acaba de colocar à venda uma t-shirt com os motivos da festa dos Bugios e Mourisqueiros. É de cor preta e tem um penacho e uma barretina coloridos e estilizados como ilustração. O seu custo (sete euros e meio) reverterá para as despesas da festa, sendo, ao mesmo tempo, um motivo de valorização desta tradição popular sobradense.

Record de visitas

Este blog está a registar hoje o seu record de visitas, desde que estas são contabilizadas. De facto, ainda o dia tem algumas horas pela frente e os visitantes únicos ultrapassaram já as duas centenas. Esta semana, o total de visitantes únicos ultrapassou já as cinco centenas. Obrigado pela preferência e ... voltem sempre.

terça-feira, junho 22, 2010

Como chegar a Sobrado


Exibir mapa ampliado

A via mais directa é seguir pela A3 e, na portagem da Maia, sair para o IC24/A41 na Direcção de Felgueiras(para já sem portagens). Surgirá uma saída designada exactamente "Sobrado". Menos de 1km adiante, encontrar-se-á um parque de estacionamento. É igualmente possível seguir pela A4 e sair em "Campo". Para quem não conhece a região, as voltas são um pouco maiores, ainda que a distãncia seja curta até Sobrado (cerca de 3 km).

Horário da Bugiada e da Mouriscada (e não só)

Por estes dias, são muitos os que visitam este blog à procura de informação sobre a Festa de S. João de Sobrado. Esta festa que alguns etnógrafos já consideraram uma das mais ricas tradições festivas de Portugal, decorre na Vila de Sobrado, Município de Valongo, durante todo o dia 24 de Junho, sendo conhecida popularmente por Festa da Bugiada. Ainda que não haja um horário rígido, a tradição ‘manda’ que se siga o seguinte:


Todo o programa, a partir do fim da manhã, decorre no Largo do Passal, junto à Igreja, em percursos que são, de um modo geral, idênticos. O "jantar", esse, tem lugar no edifício da Associação da Casa do Bugio, na estrada que sai do centro da vila de Sobrado na direcção de Alfena (a cerca de 1,5 km).
Haverá cinco (e não apenas quatro, como aqui dissemos) parques de estacionamento, de todos os lados em que se acede a Sobrado. No caso dos parques de Penido (a Norte) e da Cifa (a Sul) haverá autocarros cedidos pela autarquia local, que ajudarão a percorrer a distância entre os parques e pontos mais próximos das principais manifestações desta tradição popular.

segunda-feira, junho 21, 2010

O que une as duas fotos?


O que une estas duas fotos? Nada, parece. E, no entanto, há um elemento de união. Ambas são relativas aos Mourisqueiros. A primeira refere-se ao 'castelo' mourisco, construído na manhã do último sábado e implantado a meio do Passal. A segunda é a estrutura de cartão, revestida a pano de linho, que será a barretina do reimoeiro. Passo a passo, avançam os preparativos para o dia 24.

Sobre o dia maior do ano

Solstício de Verão - o dia maior e aquele em que o Sol está mais a pique. Muitas civilizações assinalaram este momento do ciclo do tempo (tal como o solstício de Inverno, no Natal) e a festa de S. João é claramente um vestígio ou uma manifestação desses costumes antiquíssimos. Tal como os caretos transmontanos, tão presentes ainda, nas festas dos rapazes ou de Santo Estêvão, assim em Sobrado, nestes rituais de solstício, em que, além da luta entre o bem e o mal (luta indecidida e eterna, porque volta sempre ao ponto de partida), se toca naquelas zonas da energia vital, do mistério, dos inícios e dos fins: a luz e as trevas, o amor e a violência, os excrementos e a água; o fogo e a terra. A máscara é a chave e a porta. Só a franqueia quem busca ultrapassar-se e adentrar-se num mundo desconhecido - tão feito do que nos rodeia como do que nos habita.

Ontem no JN

(Continuar a ler: AQUI)

domingo, junho 20, 2010

Crianças "dão cartas" na preparação da festa sanjoanina

Crianças do Agrupamento de Escolas de S. João de Sobrado são as protagonistas de uma exposição de máscaras e de penachos alusivos à Bugiada. O certame encontra-se aberto nas instalações da Junta de Freguesia da Vila até 2 de Julho, podendo ser visitado nas horas normais de expediente.
Participaram de forma mais directa nesta iniciativa os Jardins de Infância de Paço, da Balsa e de Fijós, sendo que, neste último caso, participou também a Escola do 1º Ciclo. Trata-se de máscaras que, na sua confecção, recorreram à pasta de papel e à chamada técnica do balão (trabalho de colagens tendo como suporte um normal balão, depois de enchido de ar).

Actualização: A turma 3º/4ºano da Escola EB1 de Paço/1º Ciclo também participou neste evento.

sexta-feira, junho 18, 2010

Tradição sobradense vista por outros

A Voz de Ermsesinde traz, na sua edição desta semana (saída a 16.6), uma peça-anúncio sobre a festa deste ano:


Ler o texto: AQUI

quinta-feira, junho 17, 2010

A ementa gastronómica da festa

Aqui vai uma consulta aos sobradenses leitores deste blog: quais são os pratos e as iguarias associados à festa de S. João? Quando terminam as Danças de Entrada e as famílias se reúnem nas suas casas, quais são as comidas típicas desse dia? E quem leva merendeiro para a festa, que costuma levar?
Indo um pouco mais longe: durante os tempos de preparação da festa, há vários momentos/tradições a que estão associados comes-e-bebes. Quais são?
Explico o alcance e o objectivo das perguntas. Numa recente sessão em Sobrado, o Presidente da Câmara Municipal de Valongo lamentou que, no dia da festa, seja difícil aos forasteiros encontrar restaurantes abertos para o almoço, no dia 24 (os que existem fecham, porque os donos também gostam da festa). E, nos comentários que se seguiram, surgiram várias ideias, uma das quais a de montar "tasquinhas" com menus que incorporem no cardápio comidas típicas. A ideia ainda não será concretizada este ano. Mas, se vier a ser, que deveria figurar nessas ementas?
Aceitam-se respostas e até receitas e segredos culinários, sem esquecer que a refeição não é apenas o prato.
(Foto: iguaria confeccionada para o almoço do dia de S. João por Margarida Suzano)

terça-feira, junho 15, 2010

Associação Progestur nasceu a partir da Festa de São João

Foi o seu líder quem o revelou, recentemente, em Sobrado, aquando do lançamento do 2º volume do projecto "Máscara Ibérica": a ideia de criar a Progestur surgiu aquando de uma ida de Helder Ferreira a Sobrado, para fotografar as Bugiadas e Mouriscadas. Ao ver a dimensão e riqueza desta festa, que está longe de ser um mero espectáculo folclórico, aquele profissional começou a sonhar com uma instituição que valorizasse este tipo de tradições populares.
Assim surgiu, em 2003,a Progestur, associação sem fins lucrativos, com sede em Lisboa, que tem como lema "a afirmação da identidade cultural portuguesa". O seu objectivo é "o desenvolvimento e a promoção do Turismo Cultural Português, dedicando o seu trabalho ao que de mais genuíno e autêntico existe na cultura portuguesa". A sua actividade passa por consultoria e projectos de estruturação e promoção de turismo cultural; organização de eventos; acções de animação; edições de livros (entre os quais um volume ilustrado sobre a festa sobradense.

segunda-feira, junho 14, 2010

Lugares e serviços na festa deste ano

É a seguinte a lista dos lugares e dos titulares de serviços na Festa deste ano:

Mourisqueiros:
  • Reimoeiro - José Maria (Ferreiro)
  • Guias - Orlando Alves e Miguel Amável
  • Rabos - Leonel Carneiro e Bruno Miguel
Bugios :
  • Velho - José Machado
  • Guias -  Augusto Cabeda e Fernando Miranda
  • Rabos - Carlos Andrade e Joaquim Luis
Serviços da tarde:

  • Colher direitos - Miguel Cabeda
  • Semear - Carlos Poças
  • Gradar - Flávio
  • Lavrar - Norberto
Dança do Sapateiro
  • Sapateiro -  Fernando Ilidio 
  • Cego -  Helder Pinto 
  • Mulher  do Sapateiro-  Cardoso 
  • Moço de Cego - Alexandre 
  • Moço de Sapateiro - Juca.

domingo, junho 13, 2010

Nos bastidores da festa

A Bugiada e a Mouriscada e tudo o mais que a Festa de S. João de Sobrado vive e mostra no dia 24 de Junho supõe praticamente um ano inteiro de preparativos. É a constituição da comissão e o pô-la a funcionar; é organizar iniciativas para angariar fundos; é contratar quem irá animar os dias anteriores e elaborar um programa interessante; é a preparação do cartaz e a obtenção dos patrocínios; é o peditório pela Vila; e é muito mais que fica quase completamente na sombra dos bastidores desta festa. Claro que este mês mais chegado é o que regista maior agitação, sobretudo a partir do momento em que arrancam os ensaios. Mas, no momento em que estamos, pode dizer-se que a festa já terá mobilizado mais de um milhar de pessoas em Sobrado, entre os que têm algum papel directo a cumprir até àqueles que se limitaram a apoiar a festa, indo, por exemplo, participar numa sarrabulhada, em pleno Inverno.
A grande parte das tarefas organizativas depende da Comissão de Festas e da sua capacidade de se organizar e pôr as pessoas a trabalhar de forma articulada. Mas há muitos trabalhos que dependem do Velho da Bugiada e mesmo do Reimoeiro.
Hoje mesmo, por exemplo, decorre o terceiro ensaio, no Passal. Nos dois primeiros, os interessados em exercer funções específicas no dia 24 deram o nome. O Velho e a sua equipa deliberaram, entretanto, e hoje no fim do ensaio anunciam os resultados. No próximo sábado, Bugios e Mourisqueiros, sob a liderança dos rspectivos chefes, vão ao monte cortar os pinheiros, transportam-nos para o Passal e constroem os castelos. No dia seguinte, é o último ensaio e é de tradição a Comissão de Festas oferecer a todos tremoços, broa e vinho. Chegam a ser centenas.
Pode dizer-se que já há festa ainda antes da festa.

Video, som, texto e fotos

Aqui ao lado, na barra lateral do blog, estão agora disponíveis, de forma mais organizada, alguns materiais que apresentam esta festa, para quem aqui chega e, não conhecendo o que é esta tradição sobradense, que ter uma visão de conjunto.
Aqui se pode encontrar:
  • - um vídeo de Carlos Brandão Lucas, há anos emitido pela RTP
  • - o programa de Manuel Vilas-Boas, emitido em 2009 pela TSF
  • - uma foto-reportagem de Paulo Pimenta, vinda a lume no site do Público
  • - um texto sobre a tradição, do autor deste blog.

sábado, junho 12, 2010

Já está em marcha a Comissão para a Festa de 2011

Ainda falta percorrer algum caminho até à festa deste ano, mas já está em fase de preparação uma Comissão de Festas para 2011, a qual deverá ter Jorge Vieira como juiz.
O garante de que a Festa se realiza é, estatutariamente a Associação da Casa do Bugio; mas, havendo quem queira assumir este encargo, habitualmente constitui-se uma Comissão específica para esse fim. É o que, tudo indica, acontecerá no ano que vem.

sexta-feira, junho 11, 2010

Quatro parques de estacionamento para acolher visitantes

A multidão que se concentra em Sobrado, no dia de S. João, aliada às danças que, em vários momentos do dia, ocupam a estrada principal obrigam a cortar o trânsito na vila, numa extensão e mais de um quilómetro. A fim de facilitar a vida aos que vão à festa de carro, sejam da terra ou de fora, a autarquia local, em colaboração com a Comissão de Festas, vai criar quatro parques de estacionamento ad hoc. Ficam situados em locais estratégicos de acesso, a saber: um perto da antiga fábrica da CIFA, para quem entra em Sobrado do lado Sul; outro perto de Penido, para quem chega do lado Norte; outro no estádio do Clube Desportivo de Sobrado, para quem vem de Oeste (Alfena, por exemplo) e outro a seguir à ponte de Santo André, para quem chega de Leste.

quinta-feira, junho 10, 2010

A Bugiada já foi à escola


Na Escola EB1/JI de Paço, em Sobrado, ainda Junho não tinha chegado e já por lá tinha andado a Festa de S. João. É do que dá conta o mais recente post do blog daquela instituição educativa, o "Escola de Paço a Passo". E porque, como diz o seu lema, "aprender está para além da escola" e "[d]essa troca de experiências se cresce", na semana de sensibilização para a Festa fizeram a construção de um cabeçudo, ouviram histórias, fantasiaram-se, assustaram os colegas do 1º ciclo , dançaram, tocaram... e até envolveram os familiares: "os pais do Dinis foram contar a lenda da Festa" de S. João e as crianças viram "fotografias que as avós trouxeram".
Gosto de ver esta escola - que na matéria é "repetente" - assim envolvida com as riquezas da comunidade local.

quarta-feira, junho 09, 2010

Coisas estranhas da Festa de Sobrado

A Festa de S. João de Sobrado está repleta de coisas estranhas: inversões, mistérios, subversões, paradoxos, à espera de interpretações pertinentes. Vejamos algumas:
  • - Em muitas outras terras, festeja-se o S. João de noite; em Sobrado é de dia - todo o dia, da alva até depois do sol-pôr.
  • - Toda a gente janta ao fim do dia ou princípio da noite; em Sobrado, o jantar da festa é de manhã, pelas 10 horas.
  • - Nas outras terras (e, nesta, nos outros dias) ninguém gosta de fazer o, digamos assim, "trabalho sujo"; pois em Sobrado não falta quem goste de ir semear, lavrar ou gradar todo mal-vestido e terminar com a roupa desfeita ou quase sem roupa; não falta quem goste - como acontece com o sapateiro e o cego - de chafurdar na lama, em cenas de primitivismo que deixam estarrecidos e com ar de enojado muitos forasteiros;
  • - Em outras terras, em que há tradições festivas que metem mouros, turcos, etc, estes são geralmente os 'maus da fita', os derrotados. Em Sobrado, são os Mourisqueiros os únicos com dignidade para ir na procissão e a pegar nos andores, incluindo o de S. João. E depois de vencerem pela força os cristãos, só são derrotados pelo terror da Serpe; e, ainda assim, como que ressuscitam para a Dança do Santo.
  • - Nas terras onde ainda se pratica a agricultura, todos começam por lavrar a terra, se querem colher algum "samiguel"; só depois gradam e semeiam. Pois em Sobrado, em dia de S. João, primeiro semeia-se e só depois é que se lavra.
  • - Por fim, é difícil encontrar no país (e alguns dizem que mesmo na Europa) muitas festas com um carácter mais espectacular do que esta. Pois tanto Bugios como Mourisqueiros antes de darem um espectáculo aos que vão à festa, dão um espectáculo a si mesmos: dançam e lutam porque a festa ainda é qualquer coisa que, se não existisse, deixaria um vazio enorme na vida deles e não poderiam "matar a paixão". Em 1974, houve cheias por altura do S. João e choveu que Deus a dava no dia 24. Quase ninguém se atreveu a ir à festa. Mas nem por isso as danças se deixaram de fazer. Porque o S. João de Sobrado não é um mero espectáculo, mas algo que dá sentido à vida - individual e colectiva.
A Festa de S. João é feita de tudo isto e sem isto nunca seria a festa de S. João.
Não acham, ó conterrâneos sobradenses?

terça-feira, junho 08, 2010

A Dança do Cego - uma mina de significados

A Dança do Cego também se chama Sapateirada. A designação depende, ao fim e ao cabo, da perspectiva: queremos ver as coisas do lado do Cego ou do lado do Sapateiro? Qualquer deles é peça-chave nesta componente da Festa de S. João de Sobrado.
Já descrevi esta representação do rapto da mulher do sapateiro pelo moço do cego e já propus uma interpretação, vendo nesta tradição uma luta entre os sedentários, de vida feita e definida, e os errantes, os que vagueiam de terra em terra. Gostaria hoje de chamar a atenção para outros aspectos.
Começo por notar que o sapateiro não exerce apenas o seu ofício. Ele é, na verdade, um gabarolas: não pára de enaltecer as "qualidades" da mulher que tem. Se o gesto é tudo, os gestos do artífice não enganam, quando apalpa as partes dela que mais lhe merecem apreço. Mais do que fiadeira, a esposa do sapateiro é (tem sido, pelo menos, nas últimas décadas) um símbolo sexual, o que contradiz um pouco o estereótipo de esposa.
Acontece que quem aparece a perturbar este estado das coisas é o cego. Guiado pelo seu guia, é verdade. Mas o guia simboliza os olhos do cego. Ele não vê as coisas do mundo exterior, mas vê melhor do que ninguém as do mundo interior, que é o espaço em que o sentido se constrói e se adquire a sabedoria da vida e, paradoxalmente, se faz luz. Por conseguinte, quando o moço do cego rapta a mulher do sapateiro, é, ao fim e ao cabo, no plano simbólico, o cego que a rapta.
O que sucede a seguir é interessante de analisar: quando o sapateiro dá pela falta da mulher e decide ir à procura dela, instala-se uma dúvida terrível: afinal, de quem será a culpa? Da mulher ou do seu raptor?
Aquele que momentos antes não parava de se vangloriar da mulher que tinha só poderia deitar a culpa para o moço do cego. Mas inúmeros circunstantes que testemunharam o que se passou aproveitam a ocasião para colocar 'sobre a mesa' uma versão radicalmente diversa: ela não foi raptada, mas fugiu, por causa da vida que o sapateiro lhe dava ou, na versão mais radical, devido à "incompetência" do sapateiro.
A terrível dúvida nunca chega a ser totalmente esclarecida, ainda que, depois de andar à luta de varapau, a mulher volte, por fim, para o sapateiro. E essa dúvida é, na verdade, uma questão existencial, que as aparências da ordem restaurada dificilmente podem apagar.
E o cego, no meio disto tudo? Ele é aquele que não vê ou aquele que vê (ainda que veja o que outros não vêem)? Sobre isso haverei de escrever numa outra oportunidade.
Que fique, entretanto, clara uma coisa: engana-se redondamente quem pense que esta "dança do cego" é coisa de primitivos e gente sem qualidades. Pelo contrário, esta parte da festa está carregada de significados que estão longe de se esgotar naquilo que aqui vou escrevendo. E esses significados também podem ser partilhados pelos leitores que apreciam esta tradição.

domingo, junho 06, 2010

Ensaios ao rubro

Os preparativos da festa de 2010 avançam a todo o gás. Depois de terem tido início os ensaios na quinta-feira passada, aproveitando o feriado do Corpo de Deus, ontem foi dia do peditório pelos diversos lugares da vila. E hoje o segundo dos quatro ensaios voltou a juntar, sob um sol escaldante, os pretendentes a Bugios e a Mourisqueiros e centenas de pessoas a assistir. Entre elas, encontrava-se hoje no Passal o Sr. Generoso Ferreira das Neves, Juiz da festa, sobradense de origem, que vive há muitos anos no Rio de Janeiro, Brasil, de onde voltou, como o faz todos os anos, mas desta vez, para exercer a função de responsável primeiro.
Os ensaios de hoje e de quinta-feira incluem ainda um pormenor que passa despercebido a muitos sobradenses: os interessados em participar nas várias funções da Festa (quem vai lavrar, gradar e semear, cego, sapateiro, respectivos 'moços' e a mulher do sapateiro) devem inscrever-se, sendo os resultados conhecidos no fim do terceiro ensaio.
Aqui ficam algumas imagens hoje registadas dos ensaios, pela ordem em que foram captadas: primeiro as dos Mourisqueiros e depois as dos Bugios.












Breves registos videográficos podem também ser vistos aqui (clicar na barra inferior de cada um dos vídeos, à esquerda):

sábado, junho 05, 2010

Notas sobre o lugar da máscara em Sobrado














Notámos aqui, há dias, o facto de a Festa de S. João de Sobrado ser bem mais do que Bugiada e Mouriscada. Mas falta dizer que há um elemento que une todas as manifestações festivas sobradenses: a máscara, esse objecto extraordinária de usos múltiplos.
A máscara, escreveu Roger Caillois (L'Ombre du Masque, in Intentions), pode servir a quem a usa para se esconder ou para se transformar. Pode ainda funcionar como recurso para o espanto ou para o medo. Intimidação, disfarce, dissimulação. Um jogo ambíguo e de vasos-comunicantes entre ser eu e ser outro, paradoxo entre o mesmo e o diferente, entre esconder e revelar.
As caretas dos Bugios são as das diferenças, dos sonhos, dos fantasmas individuais. Idem para as das Entrajadas que representam personagens algumas delas reais.
Em Sobrado, a máscara do Velho da Bugiada é uma máscara cerimonial. Confere gravitas (dignidade, seriedade, poder) ao seu portador. Muitos não sabem e nunca notaram, mas o rei da Bugiada muda de máscara ao longo do dia. A que leva de manhã não é a que traz ao fim do dia. E o semblante de uma e de outra é relativamente diferenciado.
Outra máscara específica desta festa é a do Cego. Ela introduz um misto de ingenuidade e esperteza, abandono e iniciativa; e, transparecendo a palidez de um cadáver, é sobretudo a máscara do tempo e da sabedoria que ele permite adquirir.
Finalmente, a máscara maior dir-se-ia que é a daqueles - os únicos - que, no S. João de Sobrado, não usam máscara: os Mourisqueiros. Não se estranhe que se diga tratar-se aqui uma máscara. Veja-se o caso do momento-clímax da festa: quando o Reimoeiro entra no castelo Bugio e inicia a operação da Prisão do Velho. Esse lapso de tempo - que não pode ser demasiado curto, mas que também não deve ser demorado em excesso, como por vezes ocorre - é bem a evidência da função da máscara: quando o rei mouro deita a mão ao rei bugio e emergem os dois chefes como protagonistas únicos no cenário da representação, um, através da máscara, é o rosto do trágico desastre; outro, de rosto descoberto - mas que é verdadeiramente uma máscara - trasmite a dureza do poder e da força. E não pode dar sinais de descontrolo e menos ainda de riso. Diz quem vive no palanque estes momentos que não faltam Bugios a dizer, por detrás da máscara, aquilo que o Reimoeiro não quer ouvir, a ver se ele se descontrola, nesse momento que tudo resume.
Uma nota final para dizer quanta pena é ter-se aparentemente perdido a riqueza das máscaras de outrora - de couro, de cartão, de casca de árvore, de madeira. Certamente não seria possível produzir em série máscaras tradicionais dessa natureza. Mas também não é interessante ver cada vez mais máscaras todas iguais, quais clones umas das outras. Era importante prestar mais atenção a este aspecto e, mesmo que se tomasse por base aquelas que existem, nada impediria algum trabalho local de adaptação e retoque pessoal.

sexta-feira, junho 04, 2010

Programa da Festa de 2010

(Clicar 2x na imagem para ampliar)

quinta-feira, junho 03, 2010

Para lá das danças e das lutas






A festa de S. João de Sobrado é conhecida sobre tudo pelas danças e lutas entre Bugios e Mourisqueiros. É isso que lhe dá colorido, espectáculo e dinamismo. Contudo a festa é bem mais densa e rica, porque alberga pelo menos mais três tipos de manifestações:

a) As Entrajadas ou Estardalhadas , que representam cenas de crítica social a acontecimentos ou situações da terra, do país ou até mesmo do mundo. Surgem de manhã, nas redondezas do 'jantar', passam, depois, para a estrada em que decorrerá a Dança de Entrada e seguem atrás desta, após a passagem dos Bugios. Se esta festa permanece relativamente imutável, esta é a única parte em que quase tudo muda de ano para ano. Por isso tanta gente aprecia esta faceta da Festa de Sobrado.

b) Os Rituais Agrícolas, que acontecem no recinto do Passal, a partir do início da tarde (as horas não são seguras, mas, digamos, 15 horas). A particularidade desta tradição reside no facto de as operações serem executadas em ordem inversa: todos os que semeiam começam por lavrar. Em Sobrado, não: semeia-se, grada-se e, no fim é que se lavra. Mas a terra dá na mesma, porque a festa ainda não morreu ! Associadas a estas manifestações parecem estar práticas mágico-sagradas traduzidas numa espécie de disfarçada confissão de incompetência humana, propiciatória da bênção divina. Mas foi aqui que os de fora da terra foram buscar a ideia propagandeada de que os de Sobrado não devem regular bem, porque semeiam antes de lavrar.

c) A Dança do Cego ou Sapateirada - a natureza desta parte é teatral. Representa cenas do quotidiano: um sapateiro, a sua mulher e o moço, com vida rotineira e tranquila; um cego e o seu guia, que chega de fora, factor de perturbação da ordem existente - na medida em que o moço do cego rouba a mulher ao sapateiro. Contudo este é um teatro especial, dado que os assistentes, em muitos momentos, também são participantes; e até vítimas, sobretudo quando apanham com farrapos ou spatos velhos molhados de lama pela cabeça abaixo. Mas, lá está: só apanha quem quer. E a verdade é que há sempre quem queira.

quarta-feira, junho 02, 2010

Os "Deolinda" na grande noitada da Festa de 2010

Nem mais: os Deolinda, um grupo de música popular portuguesa, um fenómeno de adesão e impacte nos últimos anos, no panorama nacional e mesmo internacioanl, vai ser a grande atracção da noite de 23 para 24, em Sobrado.
A Comissão de Festas bateu-se por esta proposta e conseguiu. A hora do início da actuação será às 00.30, o local é o Passal e o acesso é livre.

Para saber mais sobre o grupo: AQUI
Para ouvir algumas das músicas: AQUI.
(Ilustração de João Fazenda)

terça-feira, junho 01, 2010

Dois novos sócios honorários

Na última Assembleia Geral da Associação da Casa do Bugio, e por proposta da Direcção, foi aprovada a atribuição da categoria de sócio honorário a duas figuras ligadas à Festa de S. João: Generoso Ferreira das Neves e José Fernandes da Silva.
No primeiro caso, trata-se de um sobradense emigrante no Rio de Janeiro, que, além de apaixonado por esta tradição desde novo, tem sido um benemérito da Festa, especialmente depois que um filho seu saiu com vida de uma situação de rapto. De cinco em cinco anos prometeu ir de juiz da festa e este ano é um deles.
No segundo caso, trata-se de um reconhecimento pelo papel desempenhado por José Fernandes da Silva no lançamento da Associação da Casa do Bugio e na construção do edifício da sede.