quarta-feira, novembro 30, 2011

Santo André de Sobrado

Hoje é dia de Santo André, desde tempos imemoriais o padroeiro de Sobrado. Desde há anos que se restabeleceu o costume de, com simplicidade, festejar o santo, na paróquia.
Já ouvi e li quem afirmasse que o padroeiro de Sobrado é S. João. De facto, assim parece, dada a projecção da festa sanjoanina. Mas Sobrado não é caso único, nisto de dar mais destaque à evocação de uma figura religiosa que não o patrono.
Santo André era irmão de São Pedro e, por conseguinte seria também pescador. O seu nome ( em grego "ανδρεία", andreía) pode traduzir-se por "hombridade" ou "coragem". Terá sido ele a apresentar Cristo, como o Messias, a seu irmão Pedro.
Poderíamos, assim, dizer que Santo André de Sobrado festeja sobretudo o S. João, mas não esquece Santo André.

terça-feira, novembro 29, 2011

Uma festa espanhola património da humanidade

As festas da Mare de Déu de la Salut (Mãe de Deus da Saúde), da localidade de Algemesí (ao sul de Valencia, leste de Espanha) acabam de ser reconhecidas pela UNESCO como património da humanidade, na mesma sessão em que também o fado mereceu essa honra.
Trata-se de facto de uma festa riquíssima, como se pode ver aqui e aqui.
Mas quem conhece a festa de Sobrado não deixará de concluir que também ela encerra potencialidades para merecer esse reconhecimento, se não sozinha pelo menos enquadrada nas festas e rituais de máscaras ibéricos, um património de facto de inestimável valor.
Para tal, muito há que fazer ainda, não apenas no que diz respeito ao pesado e complexo processo da candidatura, mas, eu eu diria, sobretudo no cuidado e qualificação que a própria festa deve merecer. Há pequenas coisas que dizem respeito não só aos que mais directamente intervêm na festa, como em todos os que a ela assistem que muito podem contribuir para a dignidade e beleza da Bugiada e Mouriscada. Conto desenvolver este assunto em próximos posts.

sábado, novembro 26, 2011

Cultura popular e a Bugiada nos 175 anos do Concelho

Nesta terça-feira, dia 29, a Câmara Municipal de Valongo, através do Arquivo Histórico Municipal, evoca os 175 anos da criação do Concelho, com uma cerimónia simbólica de hasteamento da bandeira e uma conferência alusiva à data, centrada nas tradições do âmbito do município.
Caberá ao autor destas linhas a abordgem do tema  "Cultura popular tradicional do Concelho de Valongo: entre o passado e o futuro" e, claro, a Festa da Bugiada e Mouriscada de Sobrado não poderia deixar de ter aí lugar de destaque. 
Estes actos ocorrem no edifício que acolhe o Museu e Arquivo Histórico Municipal, nas antigas instalações da Câmara, a partir das 15 horas, sendo a entrada livre.
Perguntar-se-á: porquê neste dia? Uma nota da Câmara Municipal explica a razão:
"A 6 de Novembro de 1836, a rainha de Portugal, D. Maria II, assina o decreto que criava o concelho de Valongo. Publicado a 29 de Novembro, o decreto reduzia de 871 para 351 os concelhos do país".

(Gravura: Praça Machado Dos Santos. Pintura de Sousa Pinto)

quinta-feira, novembro 24, 2011

Valorizar e estudar as máscaras

A ideia que tinha de que muita da força da Festa da Bugiada e Mouriscada de Sobrado reside na máscara - é, de resto, este elemento que une as diversas facetas da Festa sobradense - é reforçado por uma conclusão apresentada recentemente por Sofia Maciel, uma estudiosa das máscaras transmontanas.
Nos estudos de que resultou a sua tese de doutoramento, defendida em 2008 e intitulada "Máscaras transmontanas - dos contrastes antropológicos às confluências filosóficas", fica a ideia de uma enorme densidade e complexidade em torno da compreensão deste objecto material, mas sobretudo simbólico, quando ela escreve (pp. 333-334):

"O mundo de relações simbólicas em que se inscrevem as máscaras não permite que delas se elabore um discurso acabado; pelo contrário, por mais esforço que tenhamos feito na vontade de as explicar completamente, há nelas determinadas características – opacidade, flexibilidade, duplicidade e ubiquidade – que funcionam como obstáculos à obtenção de um conhecimento exaustivo".
Como observa Sofia Maciel, no universo simbólico em que as máscaras e os mascarados operam, "os símbolos são mais reais que o simbolizado". As máscaras "configuram uma realidade que significa em qualquer tempo e lugar, acompanhando os homens, ao longo do tempo, na relação consigo próprios, os outros e o mundo; por estas razões, elas são testemunhos vivos da história da cultura e do pensamento".

Curiosamente, a autora intitula o seu capítulo de conclusões deste modo: «A Máscara, um objecto “bom para pensar”». A meu ver, esta ideia é muito sugestiva e desafiante, na medida em que a "opacidade, flexibilidade, duplicidade e ubiquidade" das caretas, atrás sublinhadas, em lugar de fecharem a possibilidade do pensamento, espicaçam a interrogação e a indagação acerca da perene necessidade da máscara não apenas como instrumento de 'não identificação', mas de 're-presentação' e de transfiguração individual e colectiva.
Também por isso é que continuo a achar que, se queremos valorizar a festa de S. João de Sobrado, será necessário valorizar bastante mais as máscaras, em particular aquelas que poderíamos designar por "máscaras de função", ou seja, aquelas que são usadas tanto pelo Velho da Bugiada, Guias, Meios e Rabos, como as que são utilizadas nos rituais agrícolas e na Dança do Cego. Há, de resto, um sinal de que esta matéria é bem mais importante do que parece: poucos se apercebem que, já hoje e desde há muito tempo, a máscara utilizada pelo Velho, na parte da manhã, não é a mesma que ele traz aquando da ida para o castelo e até ao fim da guerra, prisão e libertação. Por alguma razão será, não?

A tese  "Máscaras transmontanas - dos contrastes antropológicos ás confluências filosóficas" encontra-se acessível em regime livre no Repositorium da Universidade do Minho: AQUI
(Crédito da imagem: Máscara de Freixeda, de Salsas, Bragança, publicada na tese referida).

quinta-feira, novembro 17, 2011

Festa será estudada num doutoramento de Estudos Culturais

A festa de S. João de Sobrado vai ser o mote para duas aulas no Curso de Doutoramento em estudos Culturais, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, em Braga.
Inseridas na unidade curricular de Comunicação Intercultural, as aulas versarão sobre "Festa, luta e comunicação: a Bugiada e Mouriscada de Sobrado" (25 de Novembro); e "Dinâmicas e contradições das culturas tradicionais num mundo global" (2 de Dezembro).
Enquanto que, na primeira sessão, será feita uma descrição da festa, apoiada num filme, procurando inventariar dimensões e categorias relevantes de análise, na segunda procurar-se-á aprofundar algumas dessas dimensões e categorias.