domingo, maio 27, 2012

A festa começa hoje a mostrar-se, nos ensaios públicos

A partir de hoje ao fim da tarde (sensivelmente pelas 18h), Mourisqueiros e Bugios vão para a rua. Mais propriamente para o Passal, que é o sítio e dia da semana em que terão lugar os quatro ensaios públicos que antecedem a Festa.
É a (primeira) prova para o Velho da Bugiada e o Reimoeiro começarem a mostrar o que valem, no seu papel de liderança e, afinal, para todos os outros ensaiarem os movimentos básico das danças.
Todos vão "à civil", mas, como adereços, os Bugios levam castanholas e vão acompanhados da "orquestra", enquanto os Mourisqueiros levam um pau a fazer de espadim e são acompanhados pelo caixa.
Nos bastidores dos ensaios, ocorrem decisões e escolhas importantes para o desenrolar da festa: a inscrição de interessados para certas funções (como colher os direitos, semear, gradar, lavrar, dança do cego, etc.). Há ainda outras tarefas que implicam mobilização de uma e outra formação que decorrem durante este período (reunir os espadins e as polainas, procurar a madeira para os castelos e respetiva construção, etc).
Ou seja: a festa de 2012, verdadeiramente, começou já, no dia em que decorreu a de 2011. Mas hoje é que ela ganha vida, com o surgimento em público dos seus principais protagonistas.

domingo, maio 20, 2012

Reconhecimento municipal é apenas o primeiro passo




O reconhecimento oficial da Festa da Bugiada como património cultural imateral de interesse municipal, que aconteceu na reunião da Câmara Municipal de Valongo na passada quinta-feira constitui um gesto e um momento de evidente interesse histórico local. Mas representa apenas o primeiro passo de um processo marcado por uma ambição bastante mais larga: o reconhecimento nacional e internacional.
Isso mesmo se depreende do texto da deliberação, que este blog conseguiu obter e que aqui partilha com os leitores interessados. Vejamos o que se refere nesse documento:
a) Em primeiro lugar, a Câmara não apenas aprovou aquela deliberação por unanimidade como unanimemente decidiu submeter o assunto a uma próxima reunião da Assembleia Municipal para que, se assim o entender, este órgão se associe também à deliberação já tomada.
Esta decisão encerra um significado especial. De facto, esta possibilidade, prevista na lei, permitirá uma tomada de consciência mais alargada e participada da relevância deste património imaterial e, associando-se o órgão à deliberação, dar-lhe-á uma dimensão e significado ainda maiores;
b) Por outro lado, com base no reconhecimento no plano municipal, poder-se-á passar para o plano nacional, aravés do pedido de inventariação da Bugiada como Património Cultural Imaterial a ser elaborado para apresentação ao Instituto dos Museus e Conservação.
c) Finalmente, como se refere no texto da deliberação, "o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial permite corresponder a um dos requisitos fundamentais impostos pela Convenção da UNESCO, para possível candidatura à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade".
Este último passo assume já uma dimensão política, porquanto supõe que o Governo português dê a sua anuência para que o processo seja apresentado na UNESCO. Mas o essencial é, certamente, o valor que encerra a Festa objecto deste processo e o modo como esse valor é vivido, concretizado e reconhecido pela comunidade local - em Sobrado, antes de mais, mas também no Município.
Procuraremos, em próximos textos, reflectir sobre os valores intrínsecos a esta festa, assim como sobre aqueles aspectos que tornam a Bugiada e Mouriscada muito mais do que uma mera tradição que se repete todos os anos.

quinta-feira, maio 17, 2012

Festa de S. João de Sobrado reconhecida como património imaterial municipal


A notícia é dada pelo site do Jornal Novo de Valongo:

A Câmara Municipal de Valongo, aprovou, por unanimidade, a celebração da Bugiada como Património Imaterial Municipal. Foi na reunião desta quinta feira e na discussão do assunto foram realçados vários aspetos importantes deste festa diferente e realçada a colaboração entre as pessoas da freguesia de Sobrado. A necessidade de criar condições para que as pessoas acompanhem toda a bugiada foi outro tema abordado. 

quarta-feira, maio 16, 2012

Maratona Fotográfica do Município dedicada à Bugiada

A Divisão de Cultura do Município de Valongo acaba de apresentar a iniciativa “Valongo: terra de tradições – 1ª Maratona Fotográfica”, dedicada, nesta edição inaugural, ao tema da Bugiada. O objetivo é, nomeadamente, "sensibilizar os participantes para as tradições do Concelho" e "contribuir para o aumento do espólio documental concelhio no que toca às suas tradições de base".
Podem participar até 20 interessados, desde que sejam maiores de 16 anos e se inscrevam, no site do Município ou presencialmente na Divisão de Cultura da Câmara, até 14 de Junho.
Segundo as Normas de Funcionamento desta Maratona Fotográfica dia 20 de Junho, à tarde, os participantes deverão levantar a respetiva credencial e, no dia da Festa,24 de Junho, devem de apresentar o comprovativo de inscrição, o documento de identificação (cartão de cidadão ou bilhete de identidade) e uma declaração assinada.
Os prémios são constituídos por materiais fotográficos e o júri é composto por "três pessoas de reconhecida idoneidade e competência na área da fotografia, para além de um membro da Comissão de Festas de S. João de Sobrado". A selecção e classificação das fotos terá por base, "designadamente, a qualidade técnica e a criatividade".
Os participantes não deverão vedar zonas ou interditar passagens e devem seguir todas as instruções dadas pelos responsáveis pelas acções da Bugiada assim como pelos organizadores da Maratona.
Ficha de inscrição: AQUI

Comentário:
O comentário que aqui publiquei ontem não podia vir mais a propósito (ver, a propósito, os comentários que estão a ser feitos na página do Facebook sobre a Festa). 
Entendo que esta iniciativa da Divisão de Cultura da Câmara Municipal é positiva. Os prémios não são especialmente convidativos, mas também é verdade que os tempos que correm não permitem grande desafogo económico. Além disso, não será pelo valor dos prémios que os amantes da arte fotográfica irão ou não aderir a esta oportuna iniciativa.
É também de sublinhar algum cuidado, que se observa no Regulamento, quanto às condições em que as fotos vão poder ser feitas. Mas conviria - é uma sugestão - que, a virem a ser definidas regras para a captação de sons, imagens fotográficas e de vídeo, que essas normas sejam distribuídas pelos concorrentes desta Maratona. Isso será facilmente conseguido através da colaboração entre a Casa do Bugio, a Comissão de Festas e os organizadores deste evento. 

terça-feira, maio 15, 2012

Há um assunto sobre o qual temos de conversar e decidir

É verdade: há um assunto relacionado com a Festa sobre o qual temos de conversar e decidir. Diz respeito às condições em que se desenrolam as danças, particularmente aquelas que decorrem na zona do Passal. Refiro-me à presença de câmaras de vídeo e máquinas fotográficas.
Algumas constatações:
  • nos anos mais recentes, com a vulgarização das máquinas de registo de imagens, aumenta o número das pessoas que quer ficar com recordações da festa. Isso, em si mesmo, é positivo. A festa é rica e tem um caráter público, pelo que não se pode nem deve impedir ninguém de fotografar ou filmar.
  • dito isto, também é preciso dizer que não é bom nem para a Festa nem para quem nela participa que haja pessoas 'civis' que se metem no meio das danças, a ponto de quase já não ser hoje possível captar imagens da Festa sem apanhar intrusos que estão onde não deviam estar.
As questões que se colocam são várias:
  1. Devem ou não ser instituídas regras sobre as condições em que se podem colher imagens?
  2. Essas regras devem aplicar-se a toda a gente ou, por exemplo, os jornalistas em serviço de reportagem devem ter um regime de excepção?
  3. Em qualquer dos casos, deverá haver ou não a necessidade de obter uma credenciação prévia, de modo a identificar quem está a trabalhar e o órgão de comunicação para quem trabalha?
  4. Tais regras devem ser gerais, isto é, aplicar-se a todas as danças, desde a manhã até à noite, ou apenas às que decorrem no principal espaço da Festa, ou seja, na zona do Passal?
  5. As regras devem aplicar-se em quaisquer circunstâncias ou apenas quando Bugios e Mourisqueiros estiverem a dançar?
  6. Que poderes devem ser atribuídos aos Bugios e Mourisqueiros na aplicação das regras de captação de imagens? E à Comissão de Festas?
  7. Como fazer para que Velho e Rei, Guias e Rabos e outros participantes, assim como a população em geral, incluindo visitantes, sejam informados dessas normas, caso venham a ser instituídas?
Contra mim falo, uma vez que sou dos que, há muitos anos, recolho imagens e sons da Festa. Mas sou o primeiro a submeter-me às regras que vierem a ser decididas, as quais devem ser razoáveis.
Parece-me que seria necessário que nos pronunciássemos sobre este assunto. Que déssemos respostas sobre se sim ou não devemos impedir que no meio da Bugiada e da Mouriscada andem 'civis' e em que condições. Também a Casa do Bugio, o Conselho de Velhos e os Mourisqueiros deveriam dar o seu ponto de vista nesta matéria. Sempre com o objectivo de termos uma Festa de mais qualidade, que dê ainda mais gosto ver e viver. Quem quer dar a sua opinião?

quarta-feira, maio 09, 2012

Bibliografia e webgrafia sobre a Festa da Bugiada



Algumas notas prévias sobre esta primeira tentativa de reunir informação escrita sobre a Festa de S. João de Sobrado:

- trata-se de um trabalho em curso, aberto e, por conseguinte, não acabado;
- reúne obras especificamente sobre a festa sobradense ou de que ela é parte constituinte, mas também algumas obras em que a mesma festa é objeto de referências mais ou menos detalhadas;
- incluem-se duas teses (uma de doutoramento e outra de mestrado) que não se encontram publicadas;
- há também referências a textos que só se encontram disponíveis na Internet.
- não se incluem aqui notícias de jornal ou de revistas de divulgação.
Todos os contributos para completar esta lista são, naturalmente, muito bem recebidos.
  • Alford, V. (1933) “Midsummer and Morris  in Portugal”, in Folklore, Vol. 44, n. 2. pp. 218-235
  • Alford, V.; Gallop, R. (1935) The Traditional Dance. London: Methuen & Co. Ltd (with illustrations of Bugiada)
  • Alge, B. (2006) Der ‘Mouro’ im Kollektiven Gedächtnis - Eine Studie von Tanzdramen in religiösen Festen Nordportugals. Tese de doutoramento em Etnomusicologia na Universidade de Viena (Áustria) (não publicada).
  • Alge, B. ( 2007)  “O ‘mouro’ como elemento comparativo em duas performances de mourisca em Portugal”, Revista de Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 47/1-4, 71-92
  • Alge, B. (2006) “A memória colectiva religiosa em danças dramáticas de Penafiel, Sobrado e Braga”, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, nº 18, Lisboa: Edições Colibri, 2006, pp. 403-423
  • Araújo, M.C.C (2004). Bugios e Mourisqueiros: o Outro Lado do Espelho. Dissertação de mestrado. Porto: Faculdade de Letras (não publicada)
  • Gallop, R. (1936) Portugal, a Book of Folk Ways. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 171 a 175
  • Loução, P. A. (2002) A Alma Secreta de Portugal. Lisboa: Ésquilo, 4ª edição, (capítulo  sobre a festa: pp. 391-404)
  • Machado, P. C.; Ferreira, H. (2002). Bugiada – Valongo. Mafra: Elo, Publicidade e Artes Gráficas.
  • Pereira, B. E. (1982) “Les Maures e les Bugios de Sobrado (Valongo)”, Revue de la société d’archeologie et des amis du musée de Binche, nº 5, pp. 34-44.
  • Pereira, B. E (1973) Máscaras Portuguesas. Lisboa: Museu de Etnologia de Portugal
  • Pinto, M. (2009) S. João de Sobrado - Valongo” - capítulo do livro Máscara Ibérica II. Lisboa: Progestur (edição bilingue português-espanhol), pp. 204-225.
  • “Festa da Bugiada”. Wikipedia, edição portuguesa (URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_da_Bugiada).
  • Pinto, M. (2000) “A Bugiada: Festa, Luta e Comunicação”. Comunicação apresentada ao IV LUSOCOM – Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação, realizado em São Vicente, SP/ Brasil, de 19 a 22 de Abril de 2000, subordinado ao tema Comunicação Intercultural - 500 anos de mestiçagem luso-afro-ásio-brasileira (URL: http://bocc.ubi.pt/pag/pinto-manuel-bugiada.html).
  • Pinto, M. (1985). “As Tradições mais Relevantes no Concelho de Valongo”, Vallis Longus, Revista Científica Anual da Secção de História e Arqueologia dos Serviços Municipais de Cultura e da Câmara Municipal de Valongo , Vol. 1, Agosto 1985, pp. 31-35.
  • Pinto, M. (1982) Bugios e Mourisqueiros – Subsídios para o Estudo da Festa de S. João de Sobrado. Valongo: Edição da Associação para a Defesa do Património Cultural do Concelho de Valongo (imagens do repórter fotográfico Armando Moreira).
  • Pinto, M. (2004 …) Bugios e Mourisqueiros, blog com mais de 300 posts, muitos dos quais de natureza reflexiva ou incorporando levantamento de matéria original sobre a festa e contando com mais de 35 mil visitas, esmagadoramente de Portugal e dos países de emigração (http://bugiosemourisqueiros.blogspot.com).
(Crédito da foto: Marjoke Krom)